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José Luiz Bittencourt sobre política, cultura e economia

27 nov

Mal orientada, Enel errou ao investir em queda de braço com Caiado e caminha para um grande imbróglio jurídico envolvendo a sua concessão, em uma briga em que só ela tem a perder

Embora seja uma empresa de padrão mundial, com 65 milhões de clientes pelo planeta afora, a Enel comporta-se em Goiás como um empreendimento de fundo de quintal que só tem a perder com a briga – que insiste em comprar – com o governador Ronaldo Caiado e a totalidade da população goiana. Detalhe: o governador tem a cobertura da unanimidade da sociedade estadual, indignada com o atendimento da área de energia elétrica no Estado.

É triste ver os dirigentes até internacionais da companhia falando bobagens sobre a situação em Goiás e, mais ainda, investindo em estratégias como a tentativa de intimidação da Assembleia, onde tramita um projeto que transfere a distribuição de energia elétrica estadual para um outro operador, na prática configurando a anulação da concessão que a Enel tem em Goiás. As consequências são imprevisíveis: Caiado está falando grosso e está provido de informações que sustentam a sua posição no sentido de livrar o Estado, em definitivo, da empresa italiana.

É um jogo de bilhões de reais. Mas a vantagem, de longe, é do governador, que tem respaldo unânime tanto da faixa de consumidores individuais quanto dos clientes pessoa jurídica da Enel. O serviço prestado é de pior qualidade e, mais grave, não há interesse em dar satisfações para a opinião pública estadual nem houve preocupação em estabelecer raízes ou qualquer tipo de relação construtiva com a comunidade goiana, como bem observou a jornalista Cileide Alves, na rádio Sagres.

É uma reação infantil subestimar os efeitos das propostas que tramitam na Assembléia e na Câmara Federal, que em última análise resultam na cassação da concessão da Enel. No mínimo, o que sobrevirá, caso qualquer um desses caminhos se transforme em lei, é um enorme imblóglio jurídico, que arrastará a companhia para os tribunais, em meio à tradicional lentidão da Justiça brasileira. Não é de se descartar até mesmo a invasão policial das instalações da empresa romana para garantir o cumprimento de uma lei que teria que ser descaracterizada no Judiciário, com repercussões nada modestas, ou seja, globais, desfavoráveis para a Enel.

Os italianos insistem na estratégia da arrogância e não percebem que só eles, mais ninguém, têm a perder com essa embrulhada.