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José Luiz Bittencourt sobre política, cultura e economia

02 out

Vanderlan prioriza divulgação de fotos com a mulher Izaura e a família, expondo, por tabela, uma fragilidade de Maguito que já o “ajudou” a perder outras eleições

As redes sociais do senador Vanderlan Cardoso estão repletas de fotos e vídeos em que ele aparece ao lado da sua mulher, Izaura, muitas vezes de mãos dadas e outras mostrando um casal entrosado – em um óbvio esforço para demonstrar acatamento e respeito a valores familiares. Mais ainda: em um ou outro texto, nesses perfis, lembra-se que Vanderlan e Izaura estão juntos há 32 anos. Ela, sempre, trajando roupas em cores e cortes sóbrios, escopo também das suas eventuais falas, para as quais revela uma habilidade previsível, já que é pastora e apresentadora de programas de rádio e televisão.

Não é por acaso, leitoras e leitores. Há uma estratégia, legítima, por trás de tudo isso. Ns campanhas de 2002, em que enfrentou e derrotou Maguito Vilela, o Marconi Perillo da época também seguiu com sucesso pelo mesmo caminho. Marconi era visto com frequência segurando a mão de Valéria, explorando um ponto fraco do adversário detectado pelas pesquisas qualitativas. Alcides Rodrigues repetiu a estratégia com a sua mulher Raquel, em 2006, e também venceu: Maguito, divorciado da primeira mulher, Sandra, não era, digamos assim, um candidato que atendia aos reclamos da faixa conservadora da sociedade, em especial religiosos de todas as vertentes. Não podia posar da mesma forma.

Mas, e agora? Maguito está no terceiro casamento, dessa vez com Flávia Teles, muito, mas muito mais jovem que ele. Nos eventos a que comparece ao lado dela, o candidato não mostra desenvoltura. Algo o segura. Vanderlan, corretamente, do ponto de vista de comunicação com o eleitorado que vai decidir a eleição, procura fazer o contraponto. Exibe-se leve e solto com Izaura. Para arrematar, publica e republica fotos em que a família aparece reunida, o pai, a mãe, o filho e a filha. Não atoa, ressalta sempre que pode suas mais de três décadas de casamento. Tudo isso, amigas e amigos, tem a ver com a decisão de voto que vem aí para a prefeitura de Goiânia e ninguém tem o direito de reclamar: o que os postulantes são, o contexto em que vivem e o que fazem e dizem devem, sim, ser submetidos ao escrutínio do grande público. Até mesmo aspectos específicos da vida privada, se é que quem se dedica à vida pública a tem.

Assuntos de família são uma espécie de tabu no Brasil, mas nem tanto como foram outrora. Em uma eleição, não há como serem ocultados. Tudo tem algum peso e tudo precisa ser debatido. Maguito, aparentemente, está em desvantagem. Sua companheira não fala bem e não esconde a ansiedade ao endeusar o marido, nos trechos selecionados das suas falas desconexas que são publicados nas redes sociais do candidato – talvez para agradar a própria e à sua vontade de um dia se transformar em primeira dama e não para atender à obrigação de construir uma imagem positiva. Isso é muito comum em campanhas eleitorais. Em algumas, existem precedentes, a mulher do candidato acaba contribuindo para a sua derrota.

É bem provável que, no final das contas, esse “foco familiar” venha a servir para tirar votos de Maguito e acrescentar a Vanderlan. Infelizmente, a realidade inclui elementos machistas, passa por questões religiosas  e sempre prioriza o tradicionalismo em detrimento da inovação. Ruim para Maguito e bom para Vanderlan, quanto ao projeto que eles têm de se eleger prefeito de Goiânia.