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José Luiz Bittencourt sobre política, cultura e economia

11 dez

Com ajuda de Dória, Marconi abre “guerra da vacina” contra Caiado, mas algo tão importante para as goianas e os goianos, como se livrar da Covid-19, não deveria ser objeto de politicagem

O ex-governador Marconi Perillo voltou à ativa e está novamente mergulhado até o pescoço na política, depois de passar em regime de discrição quase que absoluta a última campanha municipal – não por opção, porém por imposição da sua difícil e complicada situação desde que foi massacrado nas urnas, em 2018, e foi lançado no ostracismo alegadamente para trabalhar em uma consultoria empresarial em São Paulo e ao mesmo tempo dar atenção total às dezenas de processos judiciais a que responde. Não pensem, no entanto, leitoras e leitores, que ele voltou para discutir políticas públicas ou debater propostas para o futuro de Goiás e dos seus habitantes, fazendo oposição, com ideias, ao governador Ronaldo Caiado – como é a obrigação de todo político desalojado do poder, em qualquer parte do mundo.

Nada disso. Marconi está agora envolvido com quimeras e bobagens desajuizadas, além de trilhar um caminho perigoso, que pode implicar em prejuízos para as goianas e os goianos: ele está abrindo uma “guerra da vacina” contra Caiado, ou seja, está buscando a instrumentalização do mais importante tema de preocupação coletiva, no momento, em todo o mundo, que é a eliminação do novo coronavírus através de um amplo e confiável programa de vacinação, para tentar desgastar o governador. Para isso, ele enviou a São Paulo um preposto de confiança – o prefeito de Hidrolândia e presidente da Associação Goiana de Municípios Paulo Sérgio – para um encontro com o governador João Dória e a abertura de uma negociação direta para que as prefeituras comprem as vacinas produzidas pelo Instituto Butatan, que pertence ao governo paulista.

É triste. Dória, claro, entrou na articulação deletéria do amigo e parceiro de Goiás, retribuindo os favores que recebeu quando era apenas um empresário de comunicação e se fartava com verbas publicitárias de milhões de reais do governo então presidido pelo aliado. Em meio a um noticiário confuso, onde não ficou claro se ele recebeu ou não o prefeito Paulinho, deixou passar a sinalização de que poderia atender a demanda. Se isso vier a acontecer, Caiado seria atropelado, ao assistir emparedado a um ou outro município vacinando as suas cidadãs e os seus cidadãos, enquanto o resto do Estado continuaria aguardando uma solução abrangente, que, como defende o governador, deveria obrigatoriamente vir do governo federal, dentro de uma coordenação nacional. É o lógico e o esperado, no sentido de que os direitos à saúde de toda a população brasileira, equanimemente, sejam garantidos, com tratamento igual para todos. Fora daí, qualquer outra decisão envolvendo a vacina contra a nova doença não passaria de inaceitável manipulação politiqueira.

Felizmente, o governador de São Paulo tem uma limitação: é candidato a presidente da República em 2022 e precisa mostrar para o país que é confiável e responsável. As vacinas que o Instituto Butatan está começando a produzir, por muito tempo, mal serão suficientes para atender às paulistas e aos paulistas. Vender para outros Estados e municípios pegaria mal. O lance armado por Marconi, assim, ficará restrito a um jogo de cena. O prefeito de Hidrolândia, que se prestou a um papel deplorável, vai voltar com o rabo entre as pernas e ser reconhecido como inocente útil para manobras inescrupulosas, em pouco tempo. Quanto a Marconi, deveria aceitar que, entre puxar o tapete de Caiado e apoiar o que é melhor para o povo goiano, deveria ficar com a segunda hipótese. Seria mais condizente com a sua biografia, se é que se preocupa em preservá-la.