Informações, análises e comentários do jornalista
José Luiz Bittencourt sobre política, cultura e economia

05 fev

Ré em Catalão: ao contrário das informações iniciais, visita de Daniel Vilela a Adib Elias não deu em nada, pode até piorar as coisas e deixar a reeleição de Caiado sem o seu principal apoiador no interior

Neste sábado, 5 de fevereiro, o secretário estadual de Governo Ernesto Roller; o presidente da Codego Renato de Castro; e o prefeito de Anápolis Roberto Naves amanheceram em Catalão para almoçar com o prefeito Adib Elias. Óbvio: o assunto da conversa é Daniel Vilela. O vice antecipado da chapa da reeleição do governador Ronaldo Caiado esteve na cidade há alguns dias e fez uma inesperada visita a Adib, que deveria ter servido para amenizar o clima ruim e resolver as coisas entre dois – porém, não foi o que aconteceu.

O efeito foi exatamente o contrário. Este blog, baseado em informações recolhidas no calor da hora, isto é, logo no dia seguinte ao encontro entre Daniel e o prefeito, chegou a registrar que, “em ambiente de paz e amor, Adib fez o seu desabafo pela expulsão do MDB depois de abrir uma dissidência para apoiar Caiado em 2018, mas aceitou as desculpas apresentadas pelo presidente do partido que o expulsou e ficou de dar uma resposta – que já se sabe positiva – para o convite que recebeu para retornar ao partido, quando e como quiser, recebendo o controle da sigla não só na sua própria cidade, mas na maioria dos 11 municípios que estão no entorno de Catalão”. Pois é: não houve nada disso. E a quem acusar a barrigada deste blog, reconheço e peço desculpas.

O que houve, aliás, foi trágico. Daniel Vilela, antes de ir para a casa de Adib Elias, almoçou com Elder Galdino, que hoje tem o controle do MDB catalano, e correligionários. Garantiu a eles que nada mudaria e que eles seguiriam no comando do partido, talvez tendo que tolerar alguma convivência com o adversário prefeito (Galdino disputou a eleição de 2020 contra Adib, quando teve um resultado pífio, ou menos 15% dos votos). Mais grave: um dia antes de visitar Adib, Daniel recebeu Elder Galdino e sua turma em Goiânia, quando os levou ao Palácio das Esmeraldas para uma tranquilizadora reunião com o envolvimento do governador. Anotem aí, leitoras e leitores: quem conhece Adib sabe que ele não engole esse tipo de desaforo.

Durante a visita a Adib Elias, Daniel manteve-se quase silencioso e mostrou-se ostensivamente constrangido, dando a impressão de que foi levado à força pelo deputado federal José Nelto, articulador do encontro. Não seria para menos. Logo após as eleições de 2018, ele e o pai Maguito Vilela (cujo papel nesse triste episódio nunca foi esclarecido) promoveram uma retaliação inédita na história política de Goiás, expulsando do MDB,  os seus principais quadros nos municípios exatamente por fazer o que ele está fazendo agora, ou seja, apoiar Caiado. Foram para a rua portentos geopolíticos como Adib, em Catalão; Paulo do Vale, em Rio Verde; e Renato de Castro, em Goianésia. E houve outros. Ernesto Roller, que era prefeito de Formosa, só não levou o chute no traseiro porque se antecipou e se desfiliou antes. E Fausto Mariano, prefeito da pequena Turvânia, mas barulhento e atuante nos bastidores.

Uma conversa com Adib, portanto, só teria sentido se fosse para a apresentação de um pedido de desculpas e um convite para retornar ao MDB como rei, não como vassalo dos hoje pseudoemedebistas de Catalão, eleitoralmente sem potencial algum. O prefeito catalano, goste-se ou não dele, é uma força da natureza, uma liderança autenticamente forjada nos braços do povo e estadualizada, muito além dos limites do seu município ou da sua região. Por esse Goiás afora, Catalão é a maior e mais importante base que a reeleição do governador tem no interior, à qual só se compara em poderio eleitoral a área de influência do presidente da Assembleia Lissauer Vieira, em Rio Verde e no Sudoeste goiano.

Daniel e Adib tiveram um diálogo de surdos. Nem um nem outro disseram nada que se aproveitasse. A iniciativa de um acordo, claro, deveria ser de Daniel Vilela, que é quem agiu contra Adib Elias e quem mais precisa, no momento, já que é candidato e precisa de votos para uma posição que pode até levá-lo a governar Goiás, no futuro próximo. Só que ele mais uma vez preferiu, ao contrário do que apregoou quando o pai passou à história com a fama de pacificador, “ser mais Daniel e menos Maguito”. Não se desculpou. Não mostrou arrependimento. Nem sequer disse que, se Adib quiser, as portas do MDB seriam reabertas para ele.

Adib é um leão, quieto no seu canto, que absolutamente não compensa provocar e daí que as consequências da visita desastrosa de Daniel Vilela são imprevisíveis. Detalhe: antes, o prefeito falava que o seu apoio a Caiado, mesmo com Daniel na vice, estava mantido. Antes. Depois do encontro com Daniel, passou a formular outra hipótese, que, inclusive, comunicou a Lissauer Vieira, pela identidade de situação que tem com ele (Lissauer também tem rejeição à presença de Daniel na chapa de Caiado): se trabalhar para reeleger o governador, estará também contribuindo para eleger o mesmo Daniel que o perseguiu e expulsou, ajudando a pavimentar a sua escalada rumo ao poder estadual. Por que ele faria isso?

O que, provavelmente, deve ter induzido Lissauer Vieira a pensamentos parecidos. E bem perto de concluir que, se Daniel Vilela coloca as suas questões pessoais acima do projeto político da reeleição de Caiado, por que eles deveriam se submeter e pagar, com prejuízos, a conta dessa fatura?