Sintego ameaça Rogério Cruz quanto ao reajuste para os professores, mas minimiza e é amigável com Gustavo Mendanha. A diferença? Em Aparecida, o PT foi cooptado com cargos na prefeitura
O Sintego tem duas caras: uma, a face radical, que mostra em Goiânia ao claramente enfrentar o prefeito Rogério Cruz com propósitos de exploração política, recusando-se a enxergar a realidade salarial dos 8.327 professores municipais, que já estão desde há muito tempo acima do piso da categoria e, com a maioria recebendo em média mais de R$ 6 mil reais. Cruz propôs um acréscimo de pouco mais de 7%, que talvez até vá mais adiante e se aproxime da casa dos 10%, mas não vê sentido – e está correto – em aplicar para quem já recebe acima do piso o aumento de 33,24% instituído pelo decreto do presidente Jair Bolsonaro que estipulou o novo valor vencimental.
Resultado: o Sintego rosna com a chantagem de uma paralisação, que prejudicaria milhares de alunos em pleno início do ano letivo, depois de tudo o que os estudantes passaram em termos de atraso no ensino nos últimos dois anos de pandemia, mas, diante de situação muito pior em Aparecida, facilita as coisas para o prefeito Gustavo Mendanha, que tem a maior parte dos professores municipais no raio de alcance do aumento do piso, mas está fazendo de tudo para não sobrecarregar os cofres da prefeitura com a sua concessão e talvez protelando para deixar a bomba para o vice-prefeito Vilmar Mariano, que deve assumir no início de abril.
O Sintego faz o quê? Alega que está negociando com Mendanha e desautoriza o Comando de Luta que os professores aparecidenses criaram justamente para suprir a ausência de uma representação autêntica e combativa. Petistas, tal como os que comandam o Sintego, estão no secretariado de Mendanha. O presidente do diretório municipal Adriano Mantovani, por exemplo, está espertamente pendurado em uma secretaria executiva, um cargo que foi criado sem nenhuma necessidade ou função, com o objetivo apenas de premiar financeiramente aliados e garantir a “unanimidade” que o atual prefeito se gaba de ter entre a classe política local.
O Sintego, que em Aparecida é um, age em sentido contrário ao mesmo Sintego, que em Goiânia é outro. O Comando de Luta dos professores aparecidenses tem credibilidade: é altamente mobilizador, promove manifestações na porta da prefeitura e fala com propriedade em greve, caso Mendanha não dê logo a resposta que ele está protelando para a atualização do piso salarial. Na capital, mesmo com o diálogo a que Rogério Cruz se propõe, a intransigência do sindicato é a tônica, ao contrário da pusilanimidade exibida na cidade vizinha. Isso, leitoras e leitores, é uma vergonha.