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José Luiz Bittencourt sobre política, cultura e economia

16 ago

Manual que ensina a perder eleições(3): o erro de cálculo de João Campos ao se ligar a um candidato sem inteligência e sem liderança, Mendanha, enterrou o seu futuro político

Para disputar eleições majoritárias, um político deve avaliar o melhor posicionamento possível a tomar, em que lugar reunirá as condições mais favoráveis e os ganhos que a sua candidatura terá. É preciso admitir que isso, em meio ao cipoal de alternativas que sempre existe, pelo menos em se tratando dos nomes mais consistentes e viáveis, nunca é fácil.

Foi o que aconteceu com João Campos: ele fez os cálculos errados e chegou à conclusão equivocada de que seria vantajoso se aliar ao ex-prefeito Gustavo Mendanha, para quem, aliás, levou um partido rachado – o Republicanos, cujas principais figuras resolveram apoiar a reeleição do governador Ronaldo Caiado. Como se diz: foi mal.

Vamos lá: não existe outra justificativa para esse movimento de João Campos a não ser a sua crença em uma transferência maciça de votos dentre o eleitorado de Aparecida e franjas, única região do Estado onde Mendanha tem penetração. Cego, sonhando com esse butim, ele não enxergou 1) que Mendanha trafega junto ao eleitorado evangélico que ele, Campos, já tinha e 2) que o ex-prefeito é uma liderança ainda em formação, com baixa capacidade de articulação, pouca inteligência política e altamente motivado por crenças pessoais distorcidas, como a de que foi escolhido por Deus para ser o novo rei Davi, quer dizer, o próximo governante de Israel, oooops… Goiás, na explicação que a sua mulher Mayara dá para a visão mística que o casal tem do processo de disputa pelo Palácio das Esmeraldas.

Resultado: não só João Campos não ampliou com Mendanha a sua estrutura eleitoral como pretendente ao Senado, incapaz originalmente de sustentar a busca de um mandato majoritário por se escorar exclusivamente na plateia evangélica, como também não estendeu as balizas do terreno onde desenvolve a sua campanha. Caso tivesse permanecido na base do governador Ronaldo Caiado, romperia essas fronteiras acompanhando a poderosa campanha presencial da coligação chefiada pelo União Brasil, mesmo como candidato avulso, com muito mais chances.

Nessa condição, Campos, já dono de uma fatia cativa do eleitorado, os evangélicos, teria com alargar, a depender da sua capacidade de convencimento, a divulgação do seu nome. E, assim, a chance de vencer a corrida como o mais votado, superando Delegado Waldir, Alexandre Baldy e Vilmar Rocha, talvez até Marconi Perillo. Claro, não seria, como não é, simples. Na prática, ele já disputa com todos esses postulantes, só que arvorado em uma coligação minúscula, sem espaço para se mexer, e, muito pior, ao lado de um candidato ao governo que está perdendo o controle até do seu terreiro. Sim, porque, em Aparecida, a maioria dos vereadores locais, por exemplo, está se bandeando para o apoio a Marconi. Um ex-prefeito de peso, Ademir Menezes, é o coordenador local da campanha de Vilmar Rocha. E uma das legendas nanicas de Mendanha, o PMN, já se desgarrou e anunciou comprometimento com Delegado Waldir para o Senado.

Mendanha nunca teve nada de concreto para oferecer a João Campos, a não ser ilusões. Campos também não deu grande coisa a ele: um Republicanos dividido e vinte e poucos segundos no horário eleitoral gratuito. Porém, comparadas as perdas de um e outro, o deputado-delegado-pastor engoliu um prejuízo muito maior: sacrificou as suas possibilidades e saltou no escuro. Nem com muita oração vai sair dessa.