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José Luiz Bittencourt sobre política, cultura e economia

10 abr

A incompreensível avaliação de O Popular sobre os 100 dias do governo Caiado 2

Os 100 dias do segundo mandato do governador Ronaldo Caiado, completados nesta segunda-feira, 10, são alvo de um festival de análises, da mesma forma que a passagem da mesma data quanto ao governo Lula 3. O jornal O Popular não fez de rogado e antecipou, no fim de semana, uma abordagem a respeito, na qual afirma, em manchete, inclusive, que a atual gestão estadual chegou a esse momento com o “freio de mão puxado”.

É difícil entender. Para começo de conversa, a metáfora usada perdeu o sentido para a maioria das pessoas: carros modernos não possuem alavanca para o freio de estacionamento e sim botões. O mecanismo é acionado ou desligado automaticamente, quando se engata a marcha ou se apaga o motor, após parado o veículo. Não se puxa nada, como antigamente.

Em seguida, o texto apresenta um quadro com “dez fatos marcantes dos primeiros 100 dias de governo”. Oito são positivos, como a aprovação do pacote social, a boa relação com os Poderes, a troca da Enel pela Equatorial e a introdução dos ônibus elétricos no Eixo Anhanguera. Um é supostamente negativo e alude a autorizações aprovadas pela Assembleia para a criação de cargos comissionados (o que não é um mal em si e depende das necessidades alegadas pelo Executivo). E o último passa por interpretações a favor ou contra, qual seja a polêmica das visitas íntimas para presidiários, com as quais Caiado não concorda dentro da sua bem-sucedida e duríssima estratégia de redução da criminalidade em Goiás.

Assim, ao relacionar os “dez fatos marcantes dos primeiros 100 dias de governo”, o próprio O Popular aponta oito que comprovam não haver “freio de mão puxado” algum. Os avanços são notórios e em alguns casos desdobramentos das decisões corretas adotadas no primeiro mandato. Fora da lista, a reportagem ainda cita o lançamento do programa de obras de r$ 15 bilhões como auspicioso, atropelando, novamente, o destrambelhado conceito do “freio de mão puxado”. É tudo muito, muito sem sentido. A matéria, em resumo, não tem a ver com o título.

Desonestidade jornalística? Talvez. Mas é preciso compreender a “ideologia” da redação de O Popular, cunhada, no passado, pelo seu falecido diretor de jornalismo Luiz Fernando Rocha Lima, o Nando. É dele a visão de que bastaria um paciente não atendido para a decretação da falência da rede de saúde pública. Ou um único buraco na pista para definir a má conservação de toda a malha viária. Além disso, dizia que, na falta de oposição capacitada em Goiás, competiria a O Popular suprir o espaço com críticas e contestações. E ironizava: anúncios de projetos governamentais não deveriam ser noticiados por se tratar de meras intenções. Uma vez realizadas, também não mereceriam divulgação porquanto apenas o cumprimento de uma obrigação do Poder Público.

 

Um único buraco significa a má conservação de toda a malha viária? Não é bem assim

 

É uma distorção e tanto do papel da imprensa. Herança talvez dos bons tempos de brilho da imprensa carioca no combate ao regime militar, quando Millôr Fernandes cunhou um jargão radical: “Jornalismo é oposição. O resto é armazém de secos e molhados”. Exagero. O mundo não mais bipolar. Jornalismo é jornalismo e assim deveria ser sem adjetivos. Não é imparcial, jamais, porque sempre refletirá o ponto de observação dos profissionais que produzem e dos veículos que publicam. Nesse último item, caso flagrante, por exemplo, de O Popular no distorcido balanço dos 100 dias de Caiado 2.