Como Caiado transformou a traição do agro em fonte de recursos para o governo
O governador Ronaldo Caiado dedicou a vida à defesa dos interesses do agronegócio brasileiro. Enfrentou a tudo e a todos para promover o setor rural, sem nunca temer qualquer tipo de retaliação. Liderou, no Congresso, a oposição aos governos Lula e Dilma Rousseff, pouco afinados com a economia do campo. Ele poderia ser definido sem erro como o representante número um do agro no país.
Mas, em 2022, tomado pela febre delirante do bolsonarismo, o agro em Goiás abandonou Caiado e adotou a candidatura de oportunidade do Major Vitor Hugo, um estranho no ninho que apenas encarnava o radicalismo ideológico comandado pelo ex-presidente. Em regiões produtoras como o Sudoeste, por exemplo, Caiado ganhou, mas com menos votos que o esperado. Quase houve 2º turno porque a fazendeirada preferiu Vitor Hugo.
Caiado sentiu a traição. Um casamento de décadas desfez-se em meio à ilusão autoritária e extremista dos seguidores de Bolsonaro. O agro mergulhou de cabeça na campanha do Major, apesar da sua evidente falta de base real para pelo menos chegar perto de uma vitória. E, no final, deu mesmo em fiasco, com o militar classificando-se em 3º lugar com pouco menos de 15% dos votos. Caiado foi reeleito já no 1º turno.
Estava sacramentado o divórcio. Livre do compromisso com o agro, o governador se sentiu à vontade para replicar em Goiás uma inovação tributária implantada há mais de 20 anos nos dois Mato Grosso: a contribuição fiscal sobre a produção agropecuária. Mais: em um momento de perda de receitas de ICMS, com a confusão armada por Jair Bolsonaro na arrecadação dos Estados, isso proporcionaria um valiosíssimo ingresso anual de R$ 1,2 bilhão ou até mais, para reforçar o erário. Caiado não hesitou.
Do limão, ou seja, da deslealdade do agro, fez-se uma saborosa limonada. Somente nos quatro primeiros meses deste ano (e abril ainda não terminou), os produtores pagaram cerca de R$ 400 milhões. E a safra mal começou. Com esse dinheiro extra, Caiado vai desenvolver um espetacular programa de reforço da infraestrutura estadual, em especial quanto a rodovias e pontes. Serão investidos R$ 5 bilhões, recolhidos pelo agro e pela mineração.
Em resumo: da decepção que teve com os seus antigos e tradicionais aliados, o governador tirou uma solução para melhorar ainda mais o equilíbrio financeiro do Estado e aplicar em obras que vão beneficiar toda a população. Talvez por linhas tortas, chegou-se a um grande e feliz acerto. No final das contas, bom para o governo Caiado 2, bom para as goianas e goianos, nem tanto para o agro.