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José Luiz Bittencourt sobre política, cultura e economia

20 jan

Goiânia: Bruno Peixoto sai fora, mas continua dentro

O debate sucessório em Goiânia anda animado. Em um movimento surpreendente, o presidente da Assembleia Legislativa Bruno Peixoto, até então tido como o principal nome à altura de representar a base do governador Ronaldo Caiado, recuou e comunicou o “adiamento” do seu projeto de candidatura ao Paço Municipal. No entanto, sua figura segue pairando sobre o processo interno em curso no grupo de Caiado e dos partidos com lugar no arco de alianças do Palácio das Esmeraldas.

Bruno saiu fora, mas continua dentro. O paradoxo é fácil de explicar: ele inverteu os polos, ou seja, colocou-se mais ou menos voluntariamente na posição de não mais ostensivamente articular a sua postulação e de aguardar as novidades. Na prática, autodeslocou-se para os bastidores, acompanhado pelos seus fiéis escudeiros, entre os quais brilha o experimentado colega de Parlamento Thales Barreto. Lá, discreta e positivamente, baixada a bola, aguardará por uma possível “convocação” para disputar o Paço Municipal encarnando os interesses da mais poderosa corrente política a fluir neste momento em Goiás – exatamente a liderada por Caiado, cujo aval, em Goiânia, é considerado capaz de influenciar as urnas depois dos 44% de votos conquistados em 2022 e da aprovação superior a 80% atraída pelo seu governo entre as goianienses e os goianienses.

Houve realismo na reorientação do presidente da Assembleia, ao preservar as suas relações com o governador e contribuir para que este se mantenha como o fio condutor das negociações para a produção de um candidato viável para defender a bandeira da base aliada no mais estratégico e volumoso colégio eleitoral do Estado. A velocidade e a consistência do avanço de Bruno Peixoto na direção do pódio em Goiânia provocaram ruídos nas engrenagens quanto ao comando de Caiado, mas, agora, isso acabou. O passo do pré-candidato que deixou de ser, porém continua sendo, mostrou-se acertado.

Em tudo isso, o ponto central está, daqui em diante, na habilidade e no profissionalismo das partes envolvidas, evitando melindres de lado a lado. Afoitos já se apressaram a espalhar uma versão maliciosa: a de que o chefe da Assembleia não serve por ausência de perfil (embora não se saiba qual perfil é esse nem quem teria a varinha de condão para chegar à definição exata). Há desrespeito aí. Outros sugerem não enxergar nas mãos de Caiado um plano de voo para o pleito na capital, por isso sem rumo e correndo o risco de engolir a deputada federal Adriana Accorsi como a grande vencedora, gerando um fato político de repercussão nacional (a vitória do PT) a partir do quintal de um dos mais falados pretendentes presidenciais em 2026. E uma penca de intrigas inoportunas e desconstrutivas para a estrutura governista. Se essa veia sangrando não for estancada, virão prejuízos para todos.

 

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Algo terá que acontecer nos próximos dias. Já estamos a menos de 8 meses da data das eleições municipais, com as pesquisas comprovando a prevalência dos interessados já lançados, como a própria Adriana Accorsi, o senador Vanderlan Cardoso e o deputado federal Gustavo Gayer. Com o pé na estrada, eles se beneficiam da visibilidade já estabelecida e se aproveitam da inexistência de um concorrente oficializado pela base de Caiado. Além disso, o próprio governador, com as suas duas vitórias, a de 2018 e a de 2022, criou o precedente da “antecipação”: em ambas, apresentou-se como candidato e principalmente executou as ações de encaminhamento (como a composição com o MDB e a escalação de Daniel Vilela para a vice-governadoria) em prazo de ano e meio a dois anos ou pouco mais antes das urnas. Deu certo e virou jurisprudência, ignorada, contudo, em Goiânia.