A escolha de Wilder: enfrentar um desafio para o qual não está preparado ou compor com Caiado
O senador Wilder Morais, do PL, aproxima-se do momento em que terá que se decidir entre duas escolhas: partir para um projeto solo, enfrentando de peito aberto o desafio de disputar o governo do Estado em 2026, ou se compor com o governador Ronaldo Caiado e levar o seu partido para compor a aliança responsável pela candidatura do atual vice Daniel Vilela ao Palácio das Esmeraldas, alinhando-se ao UNIÃO PROGRESSISTA e ao MDB para assim garantir com quase certeza a eleição de pelo menos um senador ostensivamente comprometido com o bolsonarismo, no caso o deputado federal Gustavo Gayer.
Lançar-se contra Daniel Vilela e todo o poderio da máquina política chefiada por Caiado tem tudo para se configurar, desde já, uma missão inglória. Wilder, apesar de presidir em Goiás uma das legendas mais poderosas do país, o PL, carece de quadros capacitados ao seu redor e sobrevive sobre uma base enfraquecida. Do pleito municipal passado, o PL emergiu com pouco mais de 25 prefeitos, hoje reduzidos a menos de 10 em razão da força de atração governista, que captura a cada mês dois ou três deles desde o início dos seus mandatos. Há deputados estaduais e federais, não muitos, todos sem o menor entusiasmo por uma campanha ao lado do senador – que, a propósito, é milionário, mas tem fama de mão de vaca quando se trata de investir na carreira dos eventuais companheiros.
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Não por acaso, Wilder é definido pelo jornal O Popular como “tímido” quanto a mergulhar em articulações para viabilizar a sua postulação em 2026, a não ser uma esvaziada festa de aniversário recente, para a qual se esforçou para trazer o ex-presidente Jair Bolsonaro, porém sem êxito (o Jair anda adoentado com a piora acentuada das sequelas deixadas pela facada). Fora isso, faz nada para se apresentar como alguém que um dia poderia governar Goiás. Discurso zero, ausência absoluta de propostas, uma passagem em branca nuvens pelo Senado, em torno de 10 anos, integrando o baixíssimo clero e uma trajetória política e ideológica, no geral, para lá de apagada. Incrivelmente, nem de longe lembra uma liderança com robustez suficiente para um dia conquistar o mais elevado cargo do Estado.
A outra alternativa é se alinhar com os planos de Caiado para a sua própria sucessão, engajando-se no minucioso e sólido planejamento da base governista para consagrar Daniel Vilela como o próximo ocupante do trono da Praça Cívica. Suspeita-se que Bolsonaro teria interesse nesse arranjo, que atenderia à obsessão de montar uma maioria no Senado à altura de influenciar nos rumos do país e, principalmente, aprovar impeachment de ministros do Supremo Tribunal Federal, o maior sonho da extrema-direita nacional. Sim, o PL, ao apoiar Daniel, eliminaria qualquer oposição minimamente possível ao comando caiadista nas eleições estaduais que se avizinham. Ao mesmo tempo, se colocaria perto, muito perto, de eleger Gayer como o segundo senador, com a primeira vaga assegurada à primeira-dama Gracinha – daí oferecendo uma valiosa contribuição (duas cadeiras na mais alta Câmara Legislativa brasileira) para a efetivação das expectativas bolsonaristas de instalação de um Congresso ainda mais direitista que o presentemente constituído.
Por ora, as pistas extraídas do comportamento de Wilder Morais são muito ralas para a antecipação do que realmente fará nos próximos meses, dando-se por barato que, na solução final, pesará e muito a opinião de Bolsonaro – firmando-se também a impressão de que o capitão deseja o estabelecimento de uma ponte com Caiado, ao considerar imprescindível eleger os dois senadores por Goiás em 2026, evitando os riscos de uma candidatura desde já fragilizada a governador, cuja derrocada traria o risco de levar de roldão a boa oportunidade aberta para transformar Gayer em ponta-de-lança da extrema-direita no novo Senado. Esse é o quadro e essa é a encruzilhada em que Wilder se encontra, ainda com algum tempo para se resolver, para o que vai precisar do que nunca demonstrou ter: coragem.