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José Luiz Bittencourt sobre política, cultura e economia

12 abr

Alegações de Caiado de que cortou despesas e faz economia, além de ter aumentado a arrecadação em R$ 1 bilhão/ano com redução dos incentivos fiscais, carecem de comprovação

Ronaldo Caiado, em mais de 20 anos como parlamentar, acostumou-se com o poder da palavra. E especialmente a própria, respaldada por uma biografia ímpar e indiscutivelmente limpa. Assim, enquanto atuou no Congresso Nacional, o serviço de Caiado era falar e falar, sustentando a oratória abundante em sua enorme credibilidade.

 

Agora no Executivo, pela primeira vez na vida, os desafios são outros. Discurso importa pouco, o importante é fazer. Apresentar ações concretas. E fundamentar o palavrório em documentos, dados, planilhas, números que não possam ser contestados. Pois é o que está faltando ao governador. Ele parece achar que, por ser Caiado, o manto da verdade recobre tudo o que diz. Ajuda. Mas não é bem assim – leia aqui.

 

A propósito dos seus 100 dias, Caiado anunciou valores expressivos que o seu governo estaria economizando com medidas de contenção de despesas já adotadas. Garantiu, mais uma vez, que haverá a partir deste mês de abril uma diminuição dos incentivos fiscais, resultando em um aumento de R$ 1 bilhão de reais na arrecadação anual. Ótimo. Melhor, impossível. Mas tudo isso sem o acompanhamento de uma mísera tabela do Excel ou um reles demonstrativo matemático. Nada, nada. Só palavras e palavras, como se sabe, o vento as leva, a menos que ditas nos salões parlamentares de Brasília, onde ficam guardadas para sempre nos anais legislativos, embora inutilmente. Uma fórmula que não serve aqui em Goiás.

 

Dias atrás, Caiado também falou em redução da criminalidade depois que a sua gestão começou. E exibiu índices informados pela própria Secretaria de Segurança, que têm a tradição de se chocar com os levantamentos independentes  da área policial e sofrer de um notável déficit de clareza. Por exemplo: 54 quadrilhas teriam sido desbaratadas em menos de três meses de governo, mais que em todo o ano passado. Ora, como assim? Como se chegou a essa soma? Que critério foi utilizado? Ele não esclareceu. É dever de todo jornalista sério e responsável duvidar e pedir uma elucidação mais pormenorizada.

 

Outro caso delicado é o dos incentivos fiscais. No final do ano passado, Caiado concordou com um projeto redigido pelos próprios empresários beneficiados e, ao final, aprovado pela Assembleia Legislativa, baseado na promessa de que haveria um incremento de arrecadação de R$ 1 bilhão anuais. De novo, foi só gogó. Não houve nenhuma corroboração por parte da Sefaz ou de órgãos autônomos como o Sindifisco. Na prática, um chute que assumiu ares  de realidade ao ser assumido pelo novo governador, que repetiu a provável fantasia no seu pronunciamento sobre os 100 dias de gestão. R$ 1 bilhão de reais/ano a mais no caixa estadual? Está mais para lenda do que para a vida como ela é – veja mais informações .

 

Este blog já anotou que Caiado fala demais, muito além do necessário. Parte com razão e fundamento, parte sem muita reflexão e suporte, como a promessa de pagar os salários do funcionalismo dentro do mês trabalhado, que foi moída pelas contas estouradas do governo. Ele não é mais o Caiado legislador e se transformou no Caiado gerenciador. Precisa se adequar com urgência.