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José Luiz Bittencourt sobre política, cultura e economia

25 maio

Governo Caiado cria nova instância da Justiça para justificar a nomeação de réus e até condenados à prisão: a “explicação pessoal”, em que o beneficiado dá uma versão que vale mais que o processo judicial

Ultrapassando os limites da moralidade, o governador Ronaldo Caiado tem feito nomeações para a sua administração de réus em processos por improbidade, de pelo menos um condenado em 1ª instância à prisão e de personagens que, em contraposição à área em que vão atuar, possuem no currículos atos que tiram completamente a autoridade que necessitariam ter.

 

Vamos conferir alguns casos. 1) a indicação para o Conselho Estadual de Educação de um professor condenado a mais de sete anos de prisão, em 1ª instância, por crime de peculato; 2) a nomeação de um ex-prefeito que responde a quatro processos por improbidade, inclusive um por desvios na construção de casas populares, para presidir a Agehab; 3) a indicação do cantor Chitãozinho, denunciado judicialmente pelo Ministério Público por permitir a degradação de áreas de preservação na sua fazenda (que fica na região) como embaixador da campanha de defesa ambiental do Rio Araguaia; e 4) a manutenção de assessores de alto nível metidos em irregularidades nos governos passados, alguns tendo sido presos em operações policiais nos órgãos em que atuavam, como ocorreu na Saneago e na Secretaria de Educação.

 

A pergunta que se faz é objetiva: como é que esses nomes passaram pelo rigoroso filtro que sempre foi a marca registrada de Caiado, conhecido por não transigir com qualquer tipo de corrupção, e foram para dentro do seu governo para assumir cargos e funções de relevância na administração? Há uma explicação. Os sábios que cercam Caiado criaram uma nova instância da Justiça, que pode ser chamada de “explicação pessoal”, com potencial para justificar, caso preciso, até a nomeação de um sentenciado por homicídio. Nos três primeiros casos mencionados acima, foi alegado que os nomeados prestaram esclarecimentos sobre os processos em que estão envolvidos, o que foi considerado bastante para que recebessem o endosso de um governador que, a vida inteira, nunca perdoou o menor traço de ilegalidade ou imoralidade.

 

O exemplo mais extremo dessa linha adotada pelo governo é o assento que foi destinado ao professor William Machado no Conselho Estadual de Educação, como representante da Secretaria de Educação – mandando para a cucuia a Constituição Estadual, que não foi respeitada nem pela Assembleia Legislativa, onde o dito cujo foi aprovado com apenas um voto contrário (do deputado Lucas Calil). William Machado está condenado a mais de sete anos de prisão por desviar recursos públicos quando foi vereador em Crixás. Segundo o líder do governo Bruno Peixoto ele ponderou que tudo não passou de um engano do juiz, que nunca se apropriou de um centavo do erário e que foi vítima de uma série de erros. Pronto. Uma sentença judicial foi ignorada, ainda mais em uma posição tão sensível e crucial como a supervisão dos processos educacionais em Goiás, missão do Conselho. E não se esqueçam, leitora e leitor: com a assinatura de Caiado.

 

Chitãozinho também deu explicações parecidas. Não foi ele, foram seus funcionários que degradaram a tal área verde da sua fazenda. Ora, quem imaginaria o próprio cantor, milionário, pilotando um trator de esteira para derrubar árvores em áreas que deveriam ser objeto de preservação? Claro que não poderiam ser outros que não seus funcionários. Tanto que a Justiça condenou a ele – e não seus subalternos na fazenda – a recompor a área, o que não foi demonstrado que fez, até agora. E assim se deu com o ex-prefeito de Bela Vista Eurípedes José do Carmo, entronizado na Agehab, como também no episódio dos funcionários da Saneago e da Seduc que foram recontratados pelo atual governo, apesar das evidências preocupantes da ficha corrida de cada um deles.

 

Caiado, antigamente, era duro na queda. Quando o então  governador de Brasília José Roberto Arruda foi flagrado em um escândalo de propinas, ele exigiu a sua expulsão do DEM antes mesmo de qualquer apuração. Era assim que ele se comportava e foi assim que construiu a sua reputação. Mas isso, como se vê, é passado. O Caiado de hoje afrouxou os parafusos da sua armadura ética e está longe de ser o mesmo Caiado de antigamente.