Em encontro para discutir a relação, Caiado dá um novo baile na turma do agro
A taxação sobre produtos agropecuários, instituída pelo governador Ronaldo Caiado no início do ano, é um sucesso: até o fim de março, R$ 350 milhões já terão sido acrescentados às arcas do tesouro estadual por conta do imposto. Mais dois meses, com o avanço da colheita de soja, e o ingresso ultrapassará R$ 800 milhões – e com potencial para alcançar R$ 1 bilhão ainda neste semestre, a depender da recuperação dos preços da commodity, atualmente em baixa.
Todo esse dinheiro está carimbado para a manutenção das rodovias, em especial nas zonas onde as cargas de grãos são a essência da economia, como o Sudoeste, por exemplo. Ainda assim , a turma do agro não se conforma. Sente-se espoliada. Continua esperneando, recorrendo aos tribunais, porém colecionando derrotas. Há dias, acionou o STF. Não entendeu que a época das benesses tributárias passou e que ninguém pode deixar de contribuir.
No front político, grandes fazendeiros se mexem. Nesta semana, conseguiram um encontro com Caiado, na casa do senador Wilder Morais. Na prática, para discutir a relação entre o governador e a sua antiga base de apoio, hoje trincada. Ou rompida. O divórcio parece irreversível, servindo para essa conclusão, inclusive, o acontecido durante a reunião chamada por Wilder com o intuito de dar vazão às queixas do agro.
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Presente, uma dúzia de produtores, previamente hostis, com sangue nos olhos e faca nos dentes. A ladainha foi a mesma de sempre, aquela estória furada de custos elevados e preços baixos ameaçando o setor de quebradeira. Caiado ouviu com o semblante calmo. Não reagiu às provocações. Na sua hora de falar, mostrou-se amigável, com a voz modulada. Lembrou não existir em Goiás e no Brasil quem tenha se sacrificado além dele pela defesa da agropecuária. Reafirmou esse compromisso quando garantiu a destinação exclusiva da arrecadação oriunda da nova taxa para a conservação das estradas e pontes maciçamente usadas no escoamento da safra e no transporte de bois.
Como se antepor a isso? Os agrolíderes convidados por Wilder não deram conta. O governador explicou ser responsável por 7,2 milhões de goianas e goianos, que aguardam políticas públicas eficientes para resolver as suas demandas em áreas cruciais como Educação, Saúde e Segurança. E que saiu da reeleição com a missão de reforçar o cuidado devido aos pobres, com programas sociais emancipativos. Esse eleitorado é que fechou com ele. Se dependesse apenas do agro, seria Major Vitor Hugo o atual inquilino do Palácio das Esmeraldas. Para tudo isso, a contribuição fiscal veio para ficar e… ponto final.
Caiado deu um baile e não foi contra-argumentado. Seus interlocutores, exaltados em alguns instantes, acabaram mais uma vez dominados. Quem chegou armado para um confronto, saiu com o rabo entre as pernas. Não houve nenhum bateboca, para surpresa geral. A impressão que saltou é a de que falta tutano para as cabeças que imaginam representar o agro. É um pessoal fraco em termos de ideias, em um meio sem inteligência ou preparo intelectual. Não à toa, terreno propício para o bolsonarismo.