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José Luiz Bittencourt sobre política, cultura e economia

02 set

Legado de Gomide e Naves para Anápolis é a perda do antigo poderio econômico

Entrou na ordem do dia: Aparecida cresce a uma taxa anual quatro vezes superior a  Anápolis, conforme a média dos últimos 10 anos, e está prestes a ocupar o 2º lugar no ranking dos PIBs municipais de Goiás – uma expectativa que é um desastre para a outrora chamada “Manchester” goiana, alusão à cidade que já foi um centro industrial da Inglaterra e também entrou em decadência. Conclusão inevitável: a queda do poderio industrial anapolino coincide com as gestões dos prefeitos Antônio Gomide (dois mandatos) e Roberto Naves (igualmente dois mandatos).

Ambos passarão à história como governantes locais que não conseguiram reagir à lenta descida de Anápolis, perdendo a condição de potência econômica para a emergente Aparecida. Sim, leitoras e leitores, há outros fatores envolvidos, como os 70 quilômetros a menos quanto a distância para São Paulo e a força dos sete polos empresariais aparecidenses, reforçados agora por mais um, que está sendo erigido na gigantesca área onde antes funcionava o presídio semiaberto. Anápolis, enquanto isso, patina com a estagnação do DAIA, supostamente a receber uma expansão que não sai do papel, e com a implantação de um tal Politec, que seria um parque tecnológico – aliás concebido sem nenhum espírito de modernização ou inovação, limitado a um espaço físico e ponto final. Ambas as iniciativas por ora na estaca… zero.

 

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Entre Gomide e Naves, foram-se 15 anos. Nesse período, Anápolis praticamente deixou de receber investimentos industriais. Pior, privou-se de muitos. O melhor exemplo e o da DHL, maior operadora logística do mundo, que mudou-se neste para Aparecida. Importante: como a vantagem do PIB anapolino sobre o aparecidense é de apenas R$ 300 milhões, somente a operação dessa megaempresa é capaz de suprir a diferença. A DHL mudou-se de Anápolis sem um ai de reação de Roberto Naves. Ele não se mexeu. Assim como, na semana passada, não deu as caras durante a visita do vice-presidente e ministro da Indústria & Comércio à fábrica da CAOA, para participar do anúncio de uma nova etapa de R$ 3 bilhões de reais na potencialização da linha de produção de veículos. Naves não foi alegando que, no mesmo horário, já tinha compromisso com a solenidade de assinatura de uma ordem de serviço para construir um petcenter municipal, de valor inferior a 0,1% dos recursos alocados pela CAOA.

Salta daí um outro desdobramento e esse mortal para a economia anapolina. Os dados disponíveis sobre a classificação dos PIBs municipais são do IBGE, de credibilidade indiscutível, porém inerentes a 2020. O atraso é normal. Significa, no entanto, que, hoje, como já se alteraram, valem as tendências apuradas quanto aos anos anteriores. E essas são conforme o que foi dito no 1º parágrafo: nos 10 anos precedentes, Aparecida cresceu a um ritmo quatro vezes acima de Anápolis. Nada autoriza acreditar que essa linha evolutiva tenha se modificado. É bem provável que, em conformidade com as atualizações das estatísticas, Aparecida tenha se instalado no 2º lugar. Anápólis já era.

Nem Gomide nem Naves conseguiram levar para Anápolis qualquer nova empresa de porte nem menos ainda trabalharam qualquer estratégia para reverter o esvaziamento econômico, meio que aceitando e endossando a sua inevitabilidade com a omissão. O legado que deixam para as gerações futuras é o pior possível. Não haveria nada de mais em entregar o 2º lugar no ranking dos PIBs municipais para Aparecida se esse fato não apontasse para uma deterioração da economia local nociva e negativa para a população e talvez até para Goiás, pela carência progressiva de vigor empreendedorista, fundamental para o desenvolvimento. É preciso estudar isso mais a fundo. Mas a derrocada já chegou e fala mais alto.