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José Luiz Bittencourt sobre política, cultura e economia

26 nov

Das 2 vagas para o Senado em 2026, uma já tem dono: Gracinha. E a outra?

A montagem fotográfica acima, leitoras e leitores, foi publicada há alguns dias pelo Jornal Opção e antecipa um cenário realista para 2026, mostrando os políticos que poderão se envolver na disputa pelas duas vagas no Senado Federal que estão disponíveis nas eleições daquele ano. São 10 pretendentes, mas, atenção, a maioria não vai sequer chegar à reta final.

Para todos eles, perder a disputa pelo Senado daqui a dois anos significa ganhar um bilhete azul, como antigamente se chamava o comunicado de demissão. Só que para fora da política. No caso, para fora da política. E, quem sabe, em definitivo. Em situação privilegiada, somente se vislumbra nesse quadro a primeira-dama Gracinha Caiado, não há dúvidas a favorita dentre todos os pretensos concorrentes. A candidatura de Gracinha é tão arrasadora que provavelmente trará um enquadramento especial para 2026: somente uma das cadeiras senatoriais estará realmente em questão. A outra já terá uma dona.

Dentre os nove restantes, alguns cairão no meio do caminho, por falta absoluta de chances de sucesso. Estão incluídos nessas circunstâncias o ex-ministro Alexandre Baldy, um milionário diletante na política estadual e hoje mais preocupado em vender carros elétricos, mister cada vez mais difícil no Brasil; o atual senador Jorge Kajuru, que até hoje não conseguiu fazer nada com o seu mandato; a deputada federal Adriana Accorsi, vitimada pela ojeriza antipetista e antilulista das goianas e dos goianos, como se viu no fiasco da sua campanha para a prefeitura de Goiânia; o deputado federal Zacharias Calil, que não tem caixa para um voo tão elevado quanto o Senado; e o agora vereador goianiense Major Vitor Hugo, eternamente um estranho no ninho na política estadual, mas que deverá meter a cara de qualquer jeito porque estará no meio do seu mandato na Câmara Municipal da capital e nada terá a perder. Em princípio, sem a menor possibilidade de sucesso, já que tradicionalmente só vencem eleições senatoriais em Goiás políticos que tenham algum significado para as aspirações da população ou traduzam algum tipo de bandeira coletiva, muitas vezes momentânea (e até o insosso Wilder Morais atendeu a esse requisito).

Para 2026, esse critério eliminará Vanderlan Cardoso, que ganhou de presente um mandato na mais alta Câmara Legislativa do país apenas por estar no lugar certo, na hora certa em 2018, aproveitando a queda do grupo (que nem existe mais) liderado pelo ex-governador Marconi Perillo. Por que reeleger Vanderlan senador? Que sentido existe na sua recondução, aliás, como antecipado pela sua fragorosa derrota na eleição para a prefeitura de Goiânia, na qual terminou em 5º lugar? A reeleição de Vanderlan dependeria da repetição de um milagre, mas na política, assim como na vida real, um raio não cai duas vezes na mesma árvore. A sua passagem pelo Senado está condenada a ser fugaz e esquecida.

 

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Restam, como postulantes viáveis para a segunda vaga, admitindo-se que Gracinha leva a primeira com certa facilidade, três hipóteses: Marconi Perillo e os dois Gustavos, o Mendanha e o Gayer. Marconi, coitado, está arrebentado. O PSDB virou pó de traque, não só em Goiás, como pelo país afora. Em um discurso destinado a atrair holofotes, ele diz que vai atrás do governo do Estado, alinhando-se assim como uma espécie de terceira via entre o candidato da base governista Daniel Vilela e o bolsonarista rasteiro Wilder Morais, mas parece que, nesse choque do oceano com a rocha, acabará triturado. Se tiver juízo, Marconi fará o que já deveria ter feito desde 2018, perseguindo pragmaticamente uma das 17 vagas de deputado que Goiás tem na Câmara Federal – e, notem bem, correndo o risco de não se eleger. É um ex-governador, contudo. E ex-governadores e Senado sempre tiveram muita coisa em comum.

Afunilando, Mendanha é uma liderança de renovação, conta com recall expressivo e parte de uma base definida, a região metropolitana, onde a sua liderança, segundo as pesquisas, só fica atrás do governador Ronaldo Caiado. Daí, pode dar jogo. Mendanha estará surfando no topo de uma onda para lá de positiva, depois de uma vitória histórica na sua praça natal, para a qual foi fundamental, sem falar que nas pesquisas em Goiânia chegou a aparecer muito bem colocado, apesar da impossibilidade legal da sua candidatura. Isso é um cacife real, à altura de projetar Mendanha como uma alternativa para a segunda vaga. Alternativa real.

Sobra a figura abjeta de Gustavo Gayer (adjetivo a ele lançado, sem resposta, pelo jornalista Luís Nassif, da Folha de S. Paulo). Antes da recente debacle golpista do bolsonarista, haveria um imenso potencial na sua candidatura. Depois, a avaliar. Perfil, preparo e biografia, ele não tem, nem de longe. Ah, mas foi o deputado federal mais votado em 2022 em Goiás. Sim, foi. Mas quantos Tiriricas, a cada eleição, vão para a Câmara dos Deputados como campeões de votos, sem que isso se traduza em uma validação moral ou ética ou ainda minimamente política? E Gayer é pior que os Tiriricas que abundam por aí. Ainda assim, nas condições de agora, sugere ter alguma viabilidade ou, pelo menos, se classifica melhor que muitos dos 10 adversários potenciais para 2026, só pela juventude. Mas, também, é o que ostenta a maior vulnerabilidade: seu conteúdo é o radicalismo extremo do bolsonarismo, sem nenhum valor pessoal ou político, pouco além de excremento ideológico e humano.

Visto de hoje, esse é o panorama para as eleições para o Senado em 2026. E sem margem para novidades.