O que Bruno Peixoto oferece para apoiar o projeto presidencial de Caiado? Nada
Raramente um político posicionado fora do Executivo alcançou tanto poder em Goiás como o presidente da Assembleia Legislativa. Ele transformou a instituição em recordista brasileira de comissionados, diretores, superintendentes, secretários e um cabide de empregos sem precedentes entre as suas congêneres no país – o que, aliás, coloca de pé desde já uma agenda obrigatória para o próximo deputado a chefiar a Casa e trazê-la de volta para a austeridade exigida pelo manejo do dinheiro do povo, seja ele quem for: uma reforma para podar os excessos escandalosos nos gastos que, sabe-se progressivamente a cada dia, não são poucos e bem longe de comedidos, como visto na aquisição de 42 SUVs de luxo, já rodando com motoristas, combustível e manutenção por conta dos cofres públicos (e a real história dessa extravagância está aguardando uma matéria da jornalista Fabiana Pulcinelli em O Popular).
Fora garantir a governabilidade, aprovando de bate-pronto todos os projetos encaminhados pelo Palácio das Esmeraldas, a Assembleia hoje reduziu-se a promover homenagens, instituir efemérides e distribuir medalhas. Se houver iniciativas de importância em discussão lá dentro, essas não decorrem de qualquer compromisso com os interesses das goianas e dos goianos. E quais seriam, todos ignoram. Não é por acaso que a publicidade da gestão Bruno Peixoto enfatiza obras insignificantes em municípios perdidos como Mambaí ou Portelândia, produto das distorções das emendas impositivas apresentadas pelos deputados e que o governador Ronaldo Caiado paga a contragosto, por um imperativo legal imoralmente esculpido pelos parlamentares. Caiado, com o seu governo de rigor fiscal e administrativo, está mais do que ciente de que se trata de mais nada além de desperdício dos preciosos recursos dos contribuintes estaduais.
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Como a Assembleia chegou ao fundo do poço moral e ético da política em Goiás? O colunista Wilson Silvestre, no Jornal Hoje, chama a atenção para um paradoxo: apesar de situado entre as cinco lideranças mais poderosas e influentes de Goiás, o presidente Bruno Peixoto nada acrescenta, por exemplo, ao projeto presidencial de Caiado, do qual deveria organicamente ser um dos impulsionadores, até extrapolando as fronteiras do Estado. Silvestre dá a pista para a resposta a esse enigma: Peixoto tem alma de vereador e olha lá se de Goiânia, talvez de uma corrutela qualquer por aí. Vive envolvido com partidos nanicos e manobras de superfície, sem atentar à grandeza da cadeira onde, no momento, se assenta. Sandro Mabel, prefeito de Goiânia, é muito maior: foi ele quem montou uma articulação nacional para levar, por um lado, Caiado a concordar com a federação entre o UNIÃO BRASIL e o PP, enquanto, por outro lado, a nova potência partidária que surgiu abriu espaço para a candidatura do governador goiano ao Palácio do Planalto. Sim, foi o Mabel quem fez.
Bruno Peixoto ficou sabendo de tudo isso pelos jornais. É uma humilhação, a que reagiu piorando as coisas e mergulhando a Assembleia em um jogo miúdo de chantagem contra o Tribunal de Contas dos Municípios, ameaçado de extinção caso não abra espaço para a nomeação de deputados camaradas do presidente. Isso apequena o Poder. Envergonha. Não tem a ver com o papel institucional de representação popular, uma exclusividade do Legislativo. Mas confiram a foto acima, leitoras e leitores. Alguém consegue explicar: exibida ao lado de dezenas de outras parecidas nas redes sociais, o que é que bíceps desenvolvidos e barriga sarada, ainda que às custas de cirurgias, têm a ver com a verdadeira prática da política, a não ser jogar por terra qualquer sentido de liturgia mínima obrigatória e naturalmente inerente a uma função de tamanha repercussão coletiva. E a eterna aparência de quem não tomou banho? É triste concluir que Bruno Peixoto tem tudo, como potestade de uma Assembleia despudorada e acintosa como fonte de benesses para os seus 41 integrantes, embora ao mesmo tempo, como player do jogo democrático, não tenha nada, ou seja, peso zero.