Última quimera de Caiado é um empréstimo de R$ 2 bilhões para a Celg GT, estatal que fatura só R$ 200 milhões/ano. Assim como o dinheiro do FCO e o socorro federal, é mais perda de tempo e de foco
A última ilusão do governador Ronaldo Caiado, depois da tentativa de abocanhar 30% dos recursos do FCO e de esmolar desesperadamente algum socorro do governo federal, é conseguir um crédito de R$ 2 bilhões de reais, junto ao BNDES, para uma estatal do governo goiano – a Celg Geração & Transmissão – que fatura apenas R$ 200 milhões por ano e já tem parte dessa receita comprometida com empréstimos em torno de R$ 60 milhões no total.
É preciso admitir: Caiado é criativo, mas para invencionices que só trazem perda de tempo e de foco sobre o que realmente precisa ser feito em Goiás, ou seja, um ajuste fiscal capaz de tirar o Estado da sua rotina de desequilíbrio entre receita e despesas. O governo já está no seu oitavo mês desde que começou sem avançar um milímetro nesse caminho. Pior, a situação está se agravando. Mesmo com as medidas anunciadas por Caiado, até agora, segundo ele proporcionando muito economia para o caixa estadual, a verdade é que no 1º semestre a folha de pessoal subiu mais de 14% e as despesas correntes, que englobam os custos de manutenção da máquina administrativa, mais de 8%. A consequência, infelizmente, foi a esterilização dos avanços obtidos na arrecadação de ICMS, que beiraram R$ 1 bilhão a mais também no 1º semestre, mantendo a tendência dos dois últimos anos.
Não tem o menor sentido falar em um empréstimo de R$ 2 bilhões para uma estatal que fatura somente 10% desse valor por ano. E ainda mais para aplicação difusa, ou seja, sem um objetivo determinado: o dinheiro seria destinado a investimentos na área de energia elétrica, que hoje, segundo Caiado, deveriam estar sendo feitos pela Enel, mas não estariam. Grande parte da legislação do setor teria que ser modificada, para que a exclusividade da companhia italiana na exploração da sua concessão em Goiás, já que, pelo plano imaginado pelo governador, uma fatia passaria a ser ocupada pela Celg GT – obviamente prejudicando os interesses da Enel e implicando em problemas gravíssimos quanto ao contrato que ela detém e que por uma questão de segurança jurídica não pode ser alterado a toque de caixa.
Tem cara de ser mais uma quimera. E ainda, mais uma vez, dependendo totalmente de uma boa vontade que as autoridades de Brasília nunca manifestaram em relação a Caiado. Ele não conseguiu nada em termos de socorro federal até hoje, não teve sequer resposta para a reivindicação de acesso a 30% do FCO e está pendurado em decisões provisórias do Supremo Tribunal Federal para, no final das contas, aplicar um calote no pagamento da dívida do Estado, que, é lógico, será cobrado mais tarde, com multas, juros e correção monetária. Tudo isso configura um cenário muito ruim e traz a certeza de que já passou da hora de encarar de frente a crise fiscal aqui mesmo em Goiás, com uma estratégia que inclua variáveis exclusivamente locais e não eternamente à espera de um milagre vindo de Brasília. Existe solução, sim, mas não na dependência do tal prestígio nacionais que Caiado alega – sem que traga nenhum benefício para o Estado. É aqui e não na capital federal que ele precisa mostrar a que veio.