Base parlamentar inconsistente e queda de braço com a Assembleia minam a confiança da sociedade quanto a capacidade de Caiado para governar e aprovar os projetos que dariam um rumo à sua gestão
Um dos políticos goianos de mais longa e mais bem sucedida carreira como parlamentar, o governador Ronaldo Caiado está completando oito meses de mandato executivo sem conseguir estabelecer, até hoje, uma relação sólida e confiável com a Assembleia Legislativa – Poder do qual depende para a aprovação dos projetos que poderiam suprir o que falta para a sua gestão, ou seja, um rumo para o futuro. Isso seria o mínimo para qualquer governante.
Caiado não tem garantia de nada na Assembleia. Deputados vão e voltam, quanto a composição da bancada governista. Para conquistar uma base, chegou a pisar nos princípios éticos que defendeu na campanha: na sua administração, as nomeações obedeceriam a critérios de qualificação profissional e de ficha limpa. Não fez nada disso, oferecendo aos parlamentares cotas de R$ 30 mil em cargos comissionados e superintendências e diretorias para os seus apaniguados, porta pela qual entraram figuras nada recomendáveis. Graças a isso, por exemplo, nomeou para a Codego apadrinhados de deputados que acabaram flagrados em atos de corrupção, inteiramente originários do atual governo e não dos passados. Como consequência, a estatal está sob intervenção, cuja maior finalidade parece ser varrer a sujeita para debaixo do tapete, dada a falta de transparência sobre o que aconteceu lá e o que está sendo feito no momento.
Ocorre que essas concessões não serviram para grande coisa. Como os deputados seguiram insatisfeitos e criando problemas para os projetos do Palácio das Esmeraldas que realmente têm importância, Caiado passou a dizer que estava sendo “chantageado” pelos componentes da sua própria base e que o Legislativo seria um “barril de pólvora”, dado ao retorno de irregularidades antigamente comuns. Ao mesmo tempo, permitiu que se aprofundasse o fosso que marca o relacionamento que tem com o presidente da Assembleia Lissauer Vieira, eleito contra a sua vontade. Aos poucos, Lissauer Vieira tem superado o que seus interlocutores mais próximos definem como “medo de Caiado” para firmar posições públicas de confrontação com o governo – caso do Regime de Recuperação Fiscal, que ele assegura que não será aprovado de jeito nenhum.
O que existe entre Caiado e a Assembleia, hoje, é uma queda de braço. O governador não cedeu no pagamento do duodécimo integral, que os deputados reivindicam para concluir a nova sede do Poder, no Park Lozandes, hoje a maior obra em andamento em Goiás. Também vetou os dispositivos que dariam efetividade ao orçamento impositivo, recusando-se a tornar obrigatório o pagamento das emendas dos parlamentares. Tudo isso sem conversa ou comunicação prévia ou posterior. Caiado faz o que acha que deve fazer e a Assembleia que se dane. O relacionamento entre os dois Poderes, por isso, é delicado e instável.
Mas há um preço a pagar. Incapaz de controlar um Poder que nos últimos 60 anos foi totalmente subserviente ao Executivo e tem uma vocação natural para dobrar os joelhos na direção da Praça Cívica, o governador perde a confiança da sociedade na sua capacidade como gestor público. Ele não tem o necessário e indispensável aval legislativo para adotar medidas mais profundas ou radicais, que entenda benéficas para Goiás. Passa a imagem de um governante que tem a autoridade limitada e que, mesmo recorrendo a ações que condenava, não chega a lugar nenhum. Parece tonto, indo e vindo, desnorteado.