Políticos precisam entender que a adoção de apelidos, marcas comerciais, diminutivos e nomes de guerra podem até ajudar nas urnas, mas implicam quase sempre em perda irreversível de credibilidade
O momento histórico em Goiás registra uma inflação de nomes de políticos que aproveitaram apelidos, marcas comerciais e diminutivos para facilitar a conquista de votos nas urnas, mas pagando por isso um preço caro: a perda de credibilidade, que talvez tenha a ver com a demonstração de oportunismo e de alguma superficialidade ou falsidade quanto a prática de cada um em favor da sociedade ou mesmo das suas bases eleitorais.
Para começar, há o caso dos “delegados”: delegado Valdir, delegada Adriana Accorsi, delegado Humberto Teófilo e delegado Eduardo Prado. “Delegado” é uma atribuição profissional incompatível com um mandato parlamentar. Se alguém exerceu esse cargo e foi eleito deputado, caso desses quatro, a designação perde o sentido, na medida em que revela a tentativa de levar para o debate legislativo um cargo que pode ter ajudado a conquistar a simpatia dos eleitores, mas não implica em qualquer credenciamento especial ou qualificação a mais. É como, ascendendo ao mandato de deputado, haja preferência pelo status anterior. No fundo, um exibicionismo vazio, que transmite somente uma falta de identidade política e ideológica, caso também dos que são oriundos das fileiras militares e optam por transformar patentes em reputação, como o faz o deputado “major” Araújo.
Depois, vêm as marcas comerciais. Algumas passaram à história política do Estado: José Elias Imóveis, Edson Automóveis, Sandro Mabel e Jânio Darrot são péssimos exemplos de negócios projetados para um campo onde o que deveria prevalecer são os interesses da sociedade e não motes publicitários relacionados a transações imobiliárias, garagens de carros, bolachas ou calças jeans. É deplorável. Lembra a penca de vereadores e em alguns casos até de prefeitos que são eleitos depois de trabalhar como motoristas de ambulâncias municipais, incorporando o cargo, fulano da ambulância ou beltrano da saúde. Tudo isso mostra uma mentalidade atrasada e arcaica, assumida por deputados até atuantes como Chico KGL e Glaustin da Fokus, infelizmente autodesvalorizados ao se resumir a slogans associados a redes supermercadistas – o que você acha, leitora e leitor, de um supermercado com mandato na Assembleia Legislativa ou no Congresso Nacional?
Na sequência vêm os diminutivos, entre os quais o ex-vereador e ex-deputado Chiquinho Oliveira é a principal lembrança. Onde foi parar? Com um nome desses, em lugar nenhum. Pior foi o empresário Marcos Palmerston, que associou um “inho” a uma marca comercial e terminou obrigado a encerrar precocemente a sua carreira política, que ele imaginou abrilhantar como Marquinhos do Privê (um erro grave, ao se associar a uma das mais conhecidas boates de Goiânia, embora referência ao Grupo Privê, de Caldas Novas). Do mesmo jeito, como é que um ex-vereador e atual deputado estadual conhecido como “Virmondinho” Cruvinel pode se candidatar com alguma chance a prefeito de Goiânia? Não pode e não vai a lugar nenhum, já que assume no próprio nome uma insignificância e uma redução das suas próprias possibilidades. Quem quer um “Virmondinho” como gestor da sua cidade?
Políticos vencedores levam o patrimônio que receberam no batismo a sério. Iris Rezende, Ronaldo Caiado, Lissauer Vieira e até mesmo, por que não?, Marconi Perillo, hoje vivendo um calvário depois de 20 anos tratado como um semideus em Goiás. Há exceções? Sim, as há. Maguito Vilela é uma delas, cognome herdado de uma fracassada carreira futebolística, onde o apelido Magrito escorregou para Maguito e acabou incorporado à certidão de nascimento, ou, em termos nacionais, Lula, outra situação rara que deu certo. Mas não adianta: um Zé Carapô (alcunha difícil de se entender) ou um Wilde Cambão (idem) nunca irão longe na política. Esse tipo de artíficio serve para bases localizadas, apequena quem lança mão dele e não se comunica com a globalidade da sociedade.