Até O Popular admite: sem oposição, Caiado está tão bem que pode tocar os projetos que quiser
É notória a preferência de O Popular pela cobertura das crises que enxerga na gestão do governador Ronaldo Caiado. Aliás, não só de Caiado, mas de todo e qualquer governante do Estado nas últimas décadas. Mas eis que aconteceu uma guinada: o jornal, na edição do PodCast Giro 360 desta semana, reconhece finalmente: o governador “está com tudo” (expressão literalmente usada como manchete do programa liderado pelo colunista Caio Salgado, com a participação da comentarista Cileide Alves).
Se O Popular admite, leitoras e leitores, o atual inquilino do Palácio das Esmeraldas vive um momento excepcional. O PodCast aponta que, “em questões políticas, o governador Ronaldo Caiado (UB) não tem nada a reclamar: nestes quatro primeiros meses do segundo mandato, consolidou uma base quase unânime na Assembleia e estreitou laços com o Judiciário e Ministério Público. Até Gustavo Mendanha, tido como último oposicionista, está de malas prontas para voltar ao MDB, partido da base governista”.
Sem oposição, momento da política é de céu de brigadeiro para Caiado
O rolo compressor de Caiado na Assembleia
Caiado passa o rodo e reduz a oposição a um quase nada jamais visto em Goiás
Há um mês, quando Caiado completou 100 dias no exercício do segundo mandato, O Popular publicou uma matéria apontando supostos impasses e dificuldades. Para definir o andamento do governo, foi usada uma metáfora negativa: “Caiado 2 chega aos 100 dias com o freio de mão puxado”. Falou-se em entraves na área política e em administração emperrada. Pois bem: apenas 30 dias após, a opinião do jornal sofreu uma inversão radical
“Tudo mudou em relação ao que era antigamente. Iris Rezende morreu. Maguito Vilela morreu. Caiado está encerrando o seu ciclo, talvez como candidato a presidente. Um novo grupo político, jovem, está se apresentando, com Daniel Vilela e Gustavo Mendanha assumindo o espólio do MDB. Para a oposição, sobrou Marconi Perillo, que até hoje não achou um rumo depois que deixou o poder e não é mais um nome de peso. E o PT, por um lado, e a extrema direita, por outro, ambos sem força significativa”, acrescentou no PodCast a jornalista Cileide Alves.
O resultado é um governo com uma hegemonia raramente notada antes. “Em Goiás virou moda ser da base de Caiado. Todo mundo quer dizer sim a ele”, observou o repórter Bonny Fonseca. E nesse ponto, para que O Popular não deixe de ser O Popular, os jornalistas do Giro 360 definiram como “muito ruim” a inexistência de uma oposição forte no Estado e carpiram amargamente a “posição de força” que eles enxergam no governador, faltando quase nada para concluir que praticamente está instalada uma “ditadura” em Goiás.
Não chegaram a tanto, contudo, pelo menos assertivamente. Ficaram só nas insinuações, ao lamentar as demonstrações de apoio que o Ministério Público, a Defensoria Pública, o Tribunal Justiça e até a OAB-GO têm dado para iniciativas de Caiado, citando como exemplo, a legislação aprovada pela Assembleia para combater ataques em escolas e a divulgação de notícias falsas. Essa foi a crítica mais forte que se ouviu e foi uma surpresa porque nenhum advogado ou jurista participou do PodCast, quer dizer, profissionais da OJC agora se arvoram também em especialistas em Direito Constitucional.
Até o comparecimento de deputados petistas a um almoço formal com parlamentares no Palácio das Esmeraldas foi condenado, tipo “passaram dos limites, apoiam o governo”. Ainda que esperneando, no final das contas, o PodCast chegou à tese terminativa de que Caiado “está numa boa”, com uma chorosa e emblemática frase para fechar o show: “Caiado fala e todos acatam”. Infelizmente, na visão dos jornalistas do Giro 360. A salvação de Goiás é que O Popular segue em frente como o último bastião da oposição.