Informações, análises e comentários do jornalista
José Luiz Bittencourt sobre política, cultura e economia

18 jul

Consultoria de Braga só tem um resultado possível: aconselhar Rogério Cruz a desistir da reeleição

A pouco mais de um ano para as eleições do ano vindouro, o prefeito Rogério Cruz resolveu mais uma vez tentar se reinventar, agora se acudindo com o vitorioso marqueteiro Jorcelino Braga (mais êxitos que derrotas no currículo) para criar um norte e viabilizar a candidatura a mais um mandato. Isso, quando as primeiras pesquisas em circulação apontam para Cruz completamente fora do jogo, entre o 3º e o 5º lugares. Braga, na prática, foi colocado diante de um desafio cuja resposta é equivalente a operar um milagre.

E ele entrou com tudo. Introduziu um conceito de totalidade inédito na política em Goiás, ou seja, uma espécie de 100% de condicionamento das ações da prefeitura ao prisma do marketing eleitoral, aproveitando até os detalhes e minúcias a favor de um esforço de positivação da imagem do prefeito. Não é exagero dizer que Rogério Cruz renunciou à autoridade do seu cargo e repassou suas competências para Braga, que chega ao extremo de promover reuniões de ajustamento da administração na sua empresa, a Kanal Vídeo. Cruz se submete porque – para usar uma palavra forte – entrou em desespero. As primeiras conclusões, como não deixariam de ser, são os piores possíveis: o consultor detectou uma “torre de babel” no Paço Municipal, em que ninguém faz nada em sentido coletivo e cada qual age conformes interesses pessoais ou dissonantes do compromisso com as goianienses e os goianienses. Uma balbúrdia, resumindo.

Diga-se o que se quiser de Braga, há que se reconhecer: besta ele não é. Logo, sabe previamente que o problema não é o todo, mas a parte principal, Rogério Cruz. Por um lado, pelas suas características, a de um homem simples e bem-intencionado, porém naturalmente inabilitado para o exercício do poder que caiu de graça no seu colo. Por outro lado, pela forma ilegítima com que chegou à cadeira número um da gestão municipal, não por sua culpa ou por suas artes, antes por um acidente do destino. De certa forma, é a sina dos vices que assumem no lugar dos titulares, quaisquer que sejam as circunstâncias. Eles sempre são malvistos.

 

LEIA TAMBÉM

Falta uma obra símbolo – um “viaduto” – a Rogério Cruz. E não há mais tempo para fazer

As cartas dos leitores de O Popular e o desgaste diário de Rogério Cruz

O defunto Rogério Cruz aguarda o empurrão para a sepultura

 

Cruz tem dois anos e meio de gestão que já ficaram para trás, sem dividendos para a construção de um retrato capaz de sustentar mais um mandato. Recuperar esse prejuízo em alguns meses seria uma reviravolta sem precedentes nem em Goiás nem no Brasil. Braga tem consciência disso. Ele está no papel de médico que recebe um paciente em condições estraçalhadas de saúde e ainda assim cumpre a sua obrigação de tratar. Para a família, dá falsas esperanças, por piedade. Se morrer, não é culpa dele. Política e eleitoralmente falando, o prefeito está na UTI. Ah, tem obras e realizações, o problema é que a população não foi informada. Piada. Não é por aí. Isso seria subestimar o povo da capital. Cruz é inseguro, dobra-se a circunstâncias sobre as quais não tem controle – o MDB inicialmente, depois os indicados pelo Republicanos de Brasília, em seguida Jovair Arantes e finalmente… Braga. Em si, o marqueteiro já carrega o vírus do insucesso da sua assessoria. É um homem racional, metendo-se em um cipoal de contradições e veleidades livremente circulando em volta do prefeito.

Sim, o doente é terminal e não se salvará. Só que o marqueteiro é um profissional. Apareceu um cliente e o contratou. Nada de errado em prestar os serviços nos quais tem especialidade, independentemente de onde se chegará. É a regra do mercado publicitário. Provavelmente, Braga já disse a Rogério Cruz que a reeleição está perdida de antemão. Seria o honesto a fazer. Daí, sem compromisso com o desfecho, seguiu-se a proposta para arriscar uma solução qualquer para o problema que ocupa o principal gabinete do alto do Park Lozandes. Ou, como dito linhas atrás, arranjar um artifício fora da ordem natural das coisas. O nome disso, também já dito aqui, é milagre.