Bolsonarismo e decadência de Anápolis deixam Gomide perdido
Quem lê as declarações do deputado estadual Antônio Gomide, do PT, percebe com nitidez a falta de um rumo estratégico para a sua nova candidatura a prefeito de Anápolis. Gomide não conseguiu ainda se posicionar e passar para o eleitorado algum significado para a sua volta para a gestão do 3º maior município goiano. Do pouco a destacar, salta a promessa de uma mera repetição dos 2 mandatos realizados com sucesso entre 2008 e 2016, nada mais. Sim, foi nesse período um bom prefeito, com elevada taxa de aprovação. Acontece que a cidade e a sua população, hoje, são diferentes da realidade daquela época.
Anápolis passou e passa por profundas transformações. Na política, permitiu a consolidação de um sentimento majoritário de direita, quase extrema, a partir da emergência do governo de Jair Bolsonaro. Antes reduto do PT, como, aliás, provam as vitórias de Gomide, sempre esmagadoras, evoluiu para a condição de praça do conservadorismo – e Gomide, mais uma vez, é evidência, com a derrota sofrida em 2020, quando começou na frente e acabou derrotado pela reeleição de Roberto Naves, inteiramente baseada no antipetismo. Em 2022, Bolsonaro venceu Lula com o dobro dos votos das anapolinas e dos anapolinos, praticamente 3 x 1. Um massacre, sem dúvida, sugerindo que a inevitável persistência da polarização ideológica na disputa municipal deste ano será tremendamente prejudicial para qualquer candidato petista.
Do ponto de vista da economia, Anápolis também mudou, para pior. No tempo de Gomide, ocupava sozinha o 2º lugar no ranking dos PIBs municipais do Estado. Agora, vive um empate técnico com Aparecida, mantendo uma dianteira menor que um beiço de pulga. Não há mais empresas de grande porte chegando, como antigamente. Ao contrário, estão saindo, como aconteceu com a DHL, maior operadora logística do mundo. A companhia fechou suas portas em Anápolis e já está instalada… em Aparecida. A propósito, desde o início do 1º mandato de Gomide, passando pelos 2 de Roberto Naves, nenhum investimento industrial de expressão acorreu para o DAIA. Vejam bem, leitoras e leitores: nenhum. Tudo vai para Aparecida, prestes a escalar o ranking dos PIBs municipais e se consolidar isolada no 2º lugar.
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Gomide não tem discurso com alternativas para superar nem o bolsonarismo avassalador de Anápolis nem a sua decadência econômica. No momento, lidera as pesquisas, beneficiado pela ausência de adversários definidos, quando o próprio prefeito Roberto Naves, teoricamente na situação de cabo eleitoral número 1 em razão do cargo, sequer conseguiu definir um nome para apresentar à sua sucessão. Correndo em uma raia sem rivais, por ora, o petista é o 1º, como não poderia deixar de ser. Porém, igualmente figura como campeão de rejeição, quaisquer que sejam os antagonistas cogitados. E disparado. E tanto isso esquenta a cabeça de Gomide que ele, em tudo o que fala, não transparece o menor otimismo com a campanha prestes a se iniciar. Diz apenas contar com boa saúde, ao contrário de 2020, quando foi acometido por uma doença com repercussão na sua expressão facial, da qual restaram sequelas que o transformaram em um homem de sorrisos raros.
Perdido, o deputado insiste na esperança de que, em um pleito municipal, o eleitorado vai reagir de olho nas demandas locais: atendimento de saúde, conservação de ruas e jardins, serviços públicos eficientes e por aí afora. Nada fora da órbita da prefeitura. Isso só confirma o receio de enfrentar variáveis mais amplas e dificilmente ignoradas na decisão de voto e a sugere a procura de uma brecha – mesmo equivocada, mas confortável para justificar uma fuga quanto ao debate que realmente vai interessar. Mal comparando com o futebol, trata-se de um candidato de oposição propondo-se a jogar parado, sem iniciativa de jogo. Não funciona.