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José Luiz Bittencourt sobre política, cultura e economia

10 fev

Investigações e até eventual prisão não abalam a liderança de Bolsonaro

Alvo principal das investigações sobre uma conspiração golpista em 2022, o ex-presidente Jair Bolsonaro é também o mote de uma dúvida aparentemente cruel para a classe política pelo país afora: ele manterá ou perderá a condição de influenciador das eleições municipais deste ano? Mais ainda: e se for preso, como está a caminho, em um momento ainda a amadurecer? O seu apoio ajudará ou não os candidatos a prefeito identificados com o bolsonarismo hoje em xeque, pelo menos do ponto de vista legal?

Essas perguntas estão no ar e na cabeça, por exemplo, dos postulantes à prefeitura de Goiânia. E de Aparecida. E de Rio Verde. E daí em diante pelo Estado afora. Até o governador Ronaldo Caiado pensa nas respostas, projetando um horizonte mais à frente: a disputa presidencial de 2026, à qual pretende se apresentar. Como Caiado já disse, com o apoio de Bolsonaro. Mas… e agora? As provas iniciais colhidas pela Operação Tempus Veritatis, tocada pela Polícia Federal com base em mandados expedidos na esfera do Supremo Tribunal Federal, são irretorquíveis. Houve  uma tentativa de estruturação de um golpe de Estado. E Bolsonaro estava por trás, como não poderia deixar de ser.

Nada disso, a princípio, afeta a liderança política do ex-presidente. Crucialmente, pela falta de novidades. Se houve crime, a definição é jurídica, jamais política. O Jair sempre assumiu com a cara limpa a posição que agora a Polícia Federal está fundamentando com evidências concretas: não acredita na democracia, gostaria de extirpar a esquerda brasileira perpetuando-se na Presidência e para isso cortejou e se sustentou em oficiais do Exército com a mesma visão de mundo. Nos seus quatro anos de poder, combateu sem descanso de um só dia as urnas eletrônicas e a imparcialidade da Justiça Eleitoral. Isso é golpismo puro. E ele sempre foi golpista, sem fazer questão de esconder, ao repetir as suas crenças distorcidas em público dezenas de vezes, sob aplausos. Sim, boa parte das brasileiras e dos brasileiros concordou e ainda concorda integralmente com tudo isso.

 

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Não virá de uma nova etapa nas investigações desvendando um esforço descoordenado de planejamento de uma ruptura institucional o impulso capaz de mudar o já conhecido e compartilhado por milhões de seguidores, por toda parte, em especial em Goiânia – a cidade mais bolsonarista dentre as 15 maiores do país, conforme pesquisa recente. Foi falando e pregando contra o regime democrático que Bolsonaro teve praticamente a metade dos votos no ano retrasado, quando Lula ganhou por um beiço de pulga ou reles 1,8% de diferença, quase nada. Esse potencial eleitoral tem caixa para ser ainda maior, diante das inconsistências de mais um envelhecido e arrogante governo do PT, empenhado em repetir com denodo os erros no passado e toda a ruína consequente.

Há tempos que o bolsonarismo virou religião. A possível prisão do seu santo padroeiro só fortalecerá a fé e a convicção dos seus apaixonados adeptos. Já circulam pesquisas empíricas, utilizando as redes sociais como base de dados, mostrando que está se ampliando a ideia de que Bolsonaro sofre uma perseguição implacável e injusta. Uma aura de mártir começa a revestir a sua imagem – e isso inevitavelmente se traduzirá em votos a favor de Gustavo Gayer em Goiânia, Prof. Alcides em Aparecida ou Lissauer Vieira em Rio Verde. E para os candidatos bolsonaristas em geral. Essa é a verdade.