Caiado vai pagar um preço, mas manifestação em SP visa a 2026
O governador Ronaldo Caiado vai comparecer ao ato “pró-democracia” convocado pelo ex-presidente Jair Bolsonaro para o próximo domingo na avenida Paulista, em São Paulo. Com a sua conhecida qualificação retórica, Caiado já delineou com precisão os limites da sua participação no evento bolsonarista, desde já um risco calculado com vistas à candidatura presidencial em 2026 – para a qual, no final das contas, irá necessitar do máximo de apoio possível dentro do campo da direita, em todas suas nuances, já que, dentro urna, voto é voto e não tem identificação.
Estrategicamente, não deve ter sido difícil para Caiado se decidir. Convergência com Bolsonaro, ele não tem nenhuma, a não ser dentro de um largo espectro ideológico. Isso ficou demonstrado quando estavam um no Palácio das Esmeraldas e outro no Palácio do Planalto. As dissonâncias foram gritantes, com o governador se caracterizando solidamente como um conservador civilizado e defensor do regime democrático e do Estado de Direito. E ainda, servindo de escopo para esse relacionamento repleto de altos e baixos, a posição esclarecida e científica a favor da vacinação contra a Covid-19, enquanto as trevas propugnavam pela sua desimportância.
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Caiado vai a São Paulo sabendo das cobranças na sequência por apoiadores e críticos não só de Goiás, mas de todo o país. No entanto, se comunicará diretamente com um contingente eleitoral, na pior das hipóteses, dono da metade do poder decisório das urnas, realidade comprovada pelas eleições de 2022. Se alguma coisa mudou de lá para cá, e deve ter mudado, foi em desfavor da outra metade, com certeza a cada dia perdendo a fatia do centro abocanhada na formação da frente ampla contra os desvarios do bolsonarismo. De resto, todo mundo sabe: a próxima eleição presidencial, ao se afunilar entre dois nomes no provável 2º turno, será resolvida entre um candidato da direita e outro da esquerda, grosso modo falando.
Se quiser se habilitar a uma dessas vagas (e só uma tem o figurino exato), Caiado não tem alternativas afora manter o seu discurso de luzes, porém deixando a porta aberta para garantir a absorção do apoio de todas as nuances do espaço ideológico onde sempre transitou, das tintas mais suaves até as mais carregadas. É assim que funciona um pleito majoritário e por isso, enxergando uma oportunidade, ele vai para São Paulo no domingo – aproveitando-se também da confiança gerada pela espetacular aprovação popular em Goiás e pelo conhecimento nacional conquistado especialmente a partir do triunfo da política de segurança pública estadualmente implementada, a melhor e mais bem-sucedida do Brasil. Ademais, consciente de que a moral da política é separada da moral comum e que esse é um conceito de entendimento consagrado.
A exemplo de tudo na política, aparecer ao lado de Bolsonaro será um fato destinado a produzir perdas e ganhos para Caiado. Parece conclusivo: para quem está de olho na sucessão de Lula, as vantagens serão muito mais significativas, principalmente ao se considerar os limites cuidadosamente traçados por antecipação quanto ao seu envolvimento na manifestação, fundamentalmente o distanciamento de qualquer golpismo, ataques ao STF, obscurantismo e outras distorções já cansativas dentro do bolsonarismo. Pesadas as conveniências, despontar na avenida Paulista, domingo, tem tudo a ver com quem pensa em presidir o Brasil e pragmaticamente está construindo o caminho para alcançar esse objetivo.