Informações, análises e comentários do jornalista
José Luiz Bittencourt sobre política, cultura e economia

29 fev

Racha do PSD é mais um complicador para Vanderlan em Goiânia

Quem planta ventos colhe tempestades: esse surrado ditado popular é mais oportuno do que nunca para definir a situação do senador Vanderlan Cardoso, outrora um fortíssimo candidato a prefeito de Goiânia na eleição municipal deste ano, mas agora cercado de desafios e incertezas por todos os lados. Além de isolado politicamente e 100% afastado pelas lideranças capazes de realmente influenciar o voto na capital, inclusive o ex-presidente Jair Bolsonaro e o governador Ronaldo Caiado, não há aliados potenciais a quem recorrer diante dos desvios cometidos no passado. Em 2020, recebeu o apoio de Caiado para a campanha ao Paço Municipal, mas traiu o governador na sequência, quando preferiu se engajar na candidatura do estranho no ninho Major Vitor Hugo em 2022. Já transitou por quase 10 legendas, sem deitar raízes em nenhuma. Tomou o PSD do seu fundador em Goiás, o ex-deputado federal Vilmar Rocha, que o acolheu e o apoiou em 2020. Atitudes parecidas se acumularam e eis que neste começo de ano Vanderlan olhou para cá e para lá e viu-se em estágio terminal sozinho e sem ninguém para subir no seu palanque, caso queira mesmo disputar o páreo em Goiânia (e, de resto, Bolsonaro é outro que também acusa Vanderlan de infidelidade, ao vê-lo se bandear para a bancada lulista tão logo o PT ganhou a eleição presidencial).

O PSD, nesta semana, acolheu o vereador Lucas Kitão como pré-candidato a prefeito, abençoado até mesmo pelo ex-presidente da sigla Vilmar Rocha(foto acima). Dias atrás, Vanderlan se confortou ao ouvir de Vilmar uma garantia de respaldo. Mas não é bem assim. Rocha vai perfilar com o “candidato do PSD”. Se este for Vanderlan, certo, será ele. Se for Lucas Kitão ou qualquer outro ou mesmo se houver um acordo para entregar a cabeça de chapa a um nome da base de Caiado, por exemplo, tudo bem, Vilmar acompanhará. Sua prioridade absoluta é… o partido. O pré-lançamento de Kitão, portanto, tem muito significado. De um modo geral, em um viés negativo para Vanderlan, ainda que ele, controlando de forma ditatorial o diretório metropolitano do PSD, possa impor a sua vontade – o que seria antinatural e desgastante para a sua imagem.

A obsessão pela ação individualizada, característica de Vanderlan na política, parece ter se esgotado, embora ele provavelmente não tenha consciência sobre o que está acontecendo. Tanto que apresentou sua mulher Izaura Cardoso para disputar a prefeitura de Senador Canedo, mais um gesto apto a confirmar a sua preferência por uma carreira em família e não em um sentido mais amplo, de composições, relacionamentos e comprometimentos, digamos assim, com bandeiras sociais e coletivas. Os poucos e raros interlocutores do milionário dono da Cicopal dizem se tratar de alguém que venceu na vida por conta própria e que por isso internalizou um paradigma de superioridade, que o leva até a ser inassessorável e só aceitar o que pensa e acredita por convicção própria e não a se basear em informações ou análises fora do contexto pessoal. Mesmo assim, arrebatou uma das cadeiras da mais alta Câmara Legislativa do país, privilégio reservado a poucos brasileiros. Foi longe, sim, no entanto, talvez esbarrando no seu limite derradeiro. A metamorfose ambulante de Vanderlan esgotou-se.

 

LEIA TAMBÉM

Canedo: Vanderlan diz que Izaura é quem administrou e não ele, que levou a fama

Isolamento tornou inviável a candidatura de Vanderlan

Falta de reação de Vanderlan e nova “traição” surpreendem