Mendanha fala demais: na política, isso costuma ser fatal
O ex-prefeito de Aparecida e candidato derrotado ao governo do Estado em 2022 Gustavo Mendanha transformou-se em uma figura dominante no noticiário político. Suas falas ocupam espaço nos jornais e sites, sem contar a intensa divulgação a respeito de si próprio nas redes sociais. Desde a guerra entre Israel e o Hamas até picuinhas menores do dia a dia da cidade que administrou por dois mandatos, o último incompleto, as suas opiniões multiplicam-se por um varejão midiático que, em princípio, não faz bem a nenhuma liderança interessada em influir nos processos partidários e de luta pelo poder que realmente importam, em qualquer parte do mundo.
Um exemplo é a escolha do vice a acompanhar o candidato a prefeito de Goiânia pela base governista, o ex-deputado federal e atual presidente da Federação das Indústrias Sandro Mabel. Nos bastidores, Mendanha insinua que o nome foi uma sugestão dele ao governador Ronaldo Caiado. Em público, esforça-se para demonstrar intimidade com Mabel, inclusive detalhando uma lista de possibilidades para figurar na vice do empresário cujo perfil o Palácio das Esmeraldas definiu como ideal para a gestão da capital – e não ele, Gustavo. Claro, em meio às personalidades citadas para a posição, Mendanha, não tão habilidosamente, faz questão de incluir a própria mulher, Mayara, uma desconhecida absoluta em termos do eleitorado goianiense. Lição número um: convocação é melhor do que imposição. Deixar que Mayara seja espontaneamente lembrada pelos seus méritos para cumprir a missão seria muito mais conveniente.
Mendanha, se quiser um futuro na política estadual, deveria seguir o exemplo de lideranças consagradas como o próprio Caiado, o vice Daniel Vilela, o presidente da Assembleia Bruno Peixoto e outros já não mais presentes em carne e osso, mas com destaque no passado, como Iris Rezende e Maguito Vilela. Abrir a boca, só quando houver algo essencial a dizer. Forçar a barra atrás de reconhecimento e repercussão, jamais. Melhor deixar que, no geral, os fatos se exprimam por si e deem o tom dos acontecimentos. Quem fala demais, rezam os provérbios populares, acaba dando bom dia a cavalo, morre pela boca como um peixe ou troca os cotovelos pela boca, além do que, cerrando-se os lábios, moscas não entram, sendo que, muito falar, pouco acertar e pensar – replicando aqui o estilo de Sancho Pança, o fiel escudeiro do cavaleiro fidalgo Dom Quixote de La Mancha, que adorava enfileirar adágios e aforismos para tentar reconduzir o seu amo à razão.
De resto, ninguém é tão preponderante na política à altura de ter a verborragia como dogma, ensinamento ou definição do rumo a seguir. Mendanha tem muito a aprender e os melhores professores estão logo ali, ao seu lado, como Caiado e Daniel. Para os próximos meses, sua missão será a de comandar a campanha do ex-deputado federal Leandro Vilela como candidato do MDB a prefeito de Aparecida. Esse é um desafio que, se vencido, valerá por um milhão de palavras. Ele não precisa pronunciar nenhuma. Basta trabalhar compenetrado e colher o triunfo em uma eleição que começa, agora, em clima desfavorável, em cima de uma base dividida e enfrentando um adversário poderoso – o deputado federal Prof. Alcides, campeão de todas as pesquisas publicadas até agora (e, aliás, alguém que só fala o necessário). Se Leandro não tiver sucesso, o maior perdedor será Mendanha.
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