O fator Gayer na eleição para prefeito de Goiânia

Ele veio para confundir e não para explicar, como vivia repetindo o momesco apresentador de televisão Chacrinha. “Ele” é Gustavo Gayer, ícone da direita goiana, a caminho de se transformar em fenômeno nacional, já ocupando um lugar privilegiado entre os cinco deputados federais que mais incomodam o governo Lula no Congresso. Esse “título”, aliás, poderia até ter justificado a retirada de Gayer da corrida pela prefeitura de Goiânia, na medida em que seria preservada na frente parlamentar do país uma arma contundente para atazanar a esquerda.
Mas parece que não será por aí. Na terra dos Gustavos – há o Mendanha, o Sebba e até o supersertanejo Lima, que muitos pensam ser goiano, porém é mineiro -, o Gayer transformou-se em estrela da política e tem chances como aspirante ao Paço Municipal, cavalgando um empate técnico com Adriana Accorsi, do PT, e Vanderlan Cardoso, do PSD, na faixa dos 20%. Nesta semana, ele teve a “honra” de ser confirmado pessoalmente pelo ex-presidente Jair Bolsonaro, em mais uma das suas inúmeras e frequentes visitas ao Estado onde é adorado como uma espécie de semideus. Ao contrário do que se especulava, esse Gustavo não vai desistir da candidatura a prefeito, pelo menos segundo o Jair.
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Representando o maior partido político brasileiro, o PL, Gayer até agora não adicionou à sua retórica radicaloide qualquer item específico sobre Goiânia. Nas suas redes sociais, onde se apresenta como @gusgayer, segue desfraldando o seu já tradicional discurso ideológico, sem passar perto de propostas ou de uma visão de futuro para a capital – coisa previsivelmente natural a essa altura do calendário eleitoral, a menos de seis meses da data das urnas. Esbaldou-se, claro, com a presença de Bolsonaro, à frente de quem fez um discurso acalorado prometendo… trabalhar duro para inflar a direita no Brasil, com direito a postagem dos trechos mais quentes em sua conta no Instagram. Depois de pedir “um beijim” na face ao ex-presidente, que se fez de machão desentendido, convocou a todos para a tarefa de reconduzir o capitão de volta à Presidência.
Nem uma vírgula nem qualquer pista, mesmo distante, de que se tratava de um postulante à prefeitura de Goiânia. Uma estratégia, se for, esquisita até mesmo para o mais bolsonarista de todos, o Major Vitor Hugo: “A mudança de perfil é uma necessidade para que ele seja viável na disputa majoritária da capital. Sem sombra de dúvida, o Gayer vai migrar para isso. As pessoas têm a aspiração de querer um prefeito capaz de resolver os problemas, mais próximo do dia-a-dia delas do que as discussões filosóficas ou dos embates ideológicos”, pontuou o Major, não sem uma ponta de crítica a esse Gustavo.
Gayer não está nem aí. Não abre mão de continuar liderando o seu circo particular, produzindo declarações de impacto destinadas a um fiel e apaixonado público – e não é pouca gente, já que exibe quase 2 milhões de seguidores nas redes sociais e 200 mil votos para a Câmara em 2022, em 2º lugar no ranking da bancada federal goiana. Cacife matemático para concorrer em Goiânia, portanto ele tem. E os institutos de pesquisas reverberam. O apoio afirmativo de um eleitor de peso reconhecido, o Jair, @gusgayer também ostenta. Experiência administrativa, zero, já que até a sua empresa de ensino de inglês fechou as portas. É por isso que o seu projeto eleitoral permanece cercado mais de dúvidas que de certezas, com exceção das boas intenções de voto. É elas que dão a ele a condição de alguém capaz de confundir o pleito.