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José Luiz Bittencourt sobre política, cultura e economia

23 abr

Para fugir da rejeição, candidata evita fazer defesa de Naves

Depois de dois mandatos, ambos conquistados em eleições nas quais começou bem atrás nas pesquisas e, portanto, em cenários adversos que ele surpreendente superou na reta final, o prefeito de Anápolis Roberto Naves encerra neste ano os seus dois mandatos mergulhado em uma crise financeira paralisadora para a gestão e que, somada a outros fatores, acabou atribuindo a ele uma rejeição elevada. Talvez por isso, Naves viu-se marginalizado dentro da política anapolina e só conseguiu “inventar” um nome para a sua própria sucessão há poucas semanas – é Eerizania Freitas, responsável pela área de programas sociais do município.

Em uma jogada até inteligente, o prefeito inscreveu a sua afilhada no União Brasil, garantindo assim o apoio automático do governador Ronaldo Caiado – um cabo eleitoral com peso excepcional em Anápolis, sua terra natal, aliás. Mesmo assim, não será uma campanha fácil: as pesquisas hoje mostram o deputado estadual Antônio Gomide(PT) disparado em 1º lugar, na faixa dos 40% de intenções de voto, seguido pelo bolsonarista e suplente de deputado federal Márcio Correa (PL) em torno de 10 a 13%, quase sempre menos. A situação de Eerizania é uma incógnita: desde a sua consagração como candidata, nenhuma pesquisa nova foi publicada. Não há grandes dúvidas, porém, de que ela deve partir de percentuais muito baixos, em se tratando de uma desconhecida que nunca disputou uma eleição antes.

Naves, assim, está atrás do 3º milagre, depois das suas duas vitórias inesperadas, ambas viradas de mesa verdadeiramente imprevisíveis. Perto da data das urnas do 1º turno, tanto em 2016 quanto em 2020, ele despontava em 2º ou 3º, mas, igualmente em ambos os pleitos, cresceu de repente, classificou-se para o 2º turno e acabou como o vencedor. Da 1ª vez, beneficiou-se do cansaço das anapolinas e dos anapolinos com a velha política, caracterizando-se como uma proposta de renovação. Na 2ª, apelou feio para o antipetismo e conseguiu envolver até o então presidente Jair Bolsonaro, o que facilitou a ultrapassagem do petista radical Gomide às vésperas da derradeira volta do ponteiro.

 

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Orientada pelo marqueteiro Jorcelino Braga, de quem Naves é cliente assíduo, Eerizania já circula pelos veículos de comunicação com uma profusão de declarações em que tenta vender o seu peixe: mulher, comprometida com a Educação e o Social, grande experiência como assessora administrativa em cinco governos municipais, especialista em cuidar das famílias vulneráveis. Como esperado, não fala no prefeito. En passant, diz acreditar que Naves é bom de serviço e realizador, apenas mais uma vítima da má informação ao público sobre os feitos de um determinado governante. A mesma desculpa do presidente Lula e de tantos governantes assolados por uma baixa avaliação popular: fazem muito, mas nada é comunicado com eficiência. Ou seja: a culpa não é deles. No Jornal Opção, em uma longa e monótona entrevista, nesta semana, Eerizania repete cansativamente o mantra em busca de justificativa para a reação negativa contra Naves apontada pelas pesquisas. Não fica só nisso e chega lançar críticas, mencionando “erros e acertos”. Ela, óbvio, vem para manter o que está indo bem, aperfeiçoar quando necessário e corrigir os equívocos.

Sim, leitoras e leitores, vocês já leram ou ouviram essa cantiga. É o discurso típico que Braga coloca na boca dos seus fregueses, quando se trata de interessados em renovar o mandato ou então apresentados por quem está no poder. E, claro, será a receita a ser obedecida por Eerizania para tentar não se contaminar com a alta rejeição de Naves, algo em torno de mais de 60% dos moradores de Anápolis no momento e que, logicamente, não vai desaparecer daqui para outubro. A mão que embala o berço está coberta de fuligem. Na mesma entrevista ao Jornal Opção, a candidata oficial do prefeito anapolino cita Caiado duas vezes a cada referência a Naves (e batiza Caiado de: “Meu líder”). O mote, o modelo no qual se mirar, é o governador, não o rejeitado prefeito. É essa a arenga que de agora em diante estará diariamente na boca de Eerizania, sob o monitoramento de Braga.