Desgastes do governo Lula criam desafio para Adriana Accorsi e Gomide
O PT tem em Goiânia a sua única candidata competitiva a uma prefeitura de capital: Adriana Accorsi é considerada nacionalmente como a grande e solitária aposta de um partido que envelheceu e não conseguiu renovar seus quadros nas mais importantes cidades brasileiras. Há mais um candidato em município de relevância, em Goiás: Antônio Gomide, em Anápolis. Gomide é favorito. Lidera folgado na faixa de 40% das preferências, mais ou menos 30 pontos acima do 2º colocado – Márcio Correa, do PL. Já Adriana está embolada, dividindo as pesquisas com Vanderlan Cardoso (PSD) e Gustavo Gayer (PL).
Ao contrário do resto do país, portanto, os petistas estão relativamente bem na terra do pequi, com chances em dois dos seus maiores centros urbanos. É um ponto de partida excepcional. Mesmo assim, despontam nuvens negras no horizonte de Adriana e Gomide. Em Goiânia e em Anápolis, o bolsonarismo explodiu nas eleições últimas, para a presidência da República, como uma força irresistível. O Jair, como se sabe, venceu Lula com ampla margem, saltando das urnas com quase 3 x 1 dos sufrágios, nas duas cidades. Isso tem consequências.
Pior que o bolsonarismo é o antipetismo. E Lula, a quem tanto Adriana quanto Gomide estão atrelados, não ajuda em nada. O presidente não quis saber de conciliação depois de tomar posse e mantém elevado o grau de confrontação ideológica. De algum tempo para cá, decaiu a experimentar sucessivas quedas na avaliação do seu governo. Em Goiás, mais que na maioria dos Estados. Candidaturas vinculadas ao lulismo, daí, têm consciência de que pagarão com a perda de votos. Não à toa, Adriana Accorsi e Antônio Gomide repetem diariamente: a disputa por uma prefeitura só tem a ver com a gerência das políticas públicas municipais e não com a polarização política, ao contrário do que defendem os adversários da direita (e do bolsonarismo).
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Problema: como todo partido “soviético”, o PT impõe uma rigorosa disciplina aos seus membros. Em campanhas eleitorais, por exemplo, seja para governador ou prefeito, seus representantes são obrigados a fazer a promoção apaixonada do santo padroeiro da legenda – o Lula. A direção nacional envia peças publicitárias prontas, na linha do culto à personalidade. Em especial, vídeos para a televisão. Ai de quem não veicular. Nesse sentido, Adriana e Gomide estão atados a bolas de ferro. E no momento em que o Brasil assiste ao show negativo de um presidente antiquado, apegado a uma visão monárquica de si próprio, especializado em piadas de salão ou, como definiu o colunista Mário Sabino, do site Metrópoles, “um passado que insiste em reviver. Lula perdeu a empatia, o charme, o carisma, a capacidade de convencimento, a credibilidade. O mundo mudou, Lula permaneceu idêntico, mas como caricatura de si próprio, porque foi derrotado pela Lava Jato, que expôs o que ele sempre foi”.
Para vencer, Adriana e Gomide precisarão desesperadamente achar um meio termo entre a condição de petistas, que não podem negar, e a expectativa de avanço e transformação administrativa para o dia a dia em Goiânia e Anápolis. Trata-se de um ponto de equilíbrio delicado, frente ao qual Lula e Bolsonaro, com os seus radicalismos, só concorrem para desestabilizar. Óbvio: o pleito de outubro próximo se dará sob o impacto dessa realidade, combinado com as necessidades locais de cada eleitorado. Em que proporção, ninguém tem ideia por enquanto.