Informações, análises e comentários do jornalista
José Luiz Bittencourt sobre política, cultura e economia

28 maio

Políticos que pensam e agem fora da caixa ganham espaço em Goiás

Não há nada mais nefasto para a afirmação e crescimento cultural em sentido amplo de uma sociedade do que a chamada velha política. Trata-se de uma área, a da representação popular, em que se perpetuam costumes arcaicos, práticas superadas e rotinas características de um passado distante, mas sobrevivendo até hoje como uma estrutura mortal ainda suficiente para oprimir os vivos – e isso pode ser encontrado por toda parte, no Brasil, inclusive… em Goiás.

O padrão estadual tem uma característica a mais: muitas vezes, quem reproduz esses comportamentos são jovens que deveriam se armar da inovação para influenciar a mudança de uma tradição já cansativa que afoga todos os partidos, da esquerda à direita, sem distinção. É a política convencional, subjacente como coisa séria nos conchavos de bastidores, quando deveria estar repousando esquecida há anos e anos depois de depositada nas caçambas de lixo. Vereadores e deputados com sete, oito, dez, doze mandatos por décadas a fio estão aí para comprovar a tese. Não que haja um mal inerente em prolongar indefinidamente uma carreira eletiva. O problema está em replicar no mundo moderno a mesma conduta de 30, 40 anos atrás.

Sempre há novidades, no entanto, e benfazejas, sem entrar no mérito ideológico ou partidário de quem quer que seja. O governador Ronaldo Caiado é um exemplo de trajetória estendida, superior a 20 anos no Legislativo, porém sempre se reoxigenando. Não há como negar. Investido no Executivo, através de duas consagradoras eleições vencidas em 1º turno, mostrou ser um governante que pensa e age fora da caixa, revolucionando os parâmetros considerados como absolutamente normais durante as estadias de Iris Rezende, Maguito Vilela e Marconi Perillo no Palácio das Esmeraldas. Com Caiado, administrar passou a ser um mister quase 100% técnico, escorrendo para a política apenas quando o caso é levar serviços públicos, obras e benesse para a população (em especial nos seus segmentos vulneráveis). Não há secretários indicados por partidos ou parlamentares. A corrupção foi varrida do mapa. Caiado provou ser diferenciado e recolheu das ruas a maior nota de avaliação jamais atribuída a um governador em Goiás, cravando exatos 86% de aprovação.

Fora do poder, vejamos o exemplo de dois jovens: a petista Adriana Accorsi e o bolsonarista Gustavo Gayer. Não se pretende, aqui, qualquer comparação entre eles e sim demonstrar que, cada um em seu quadrado, transformaram-se em modelos de políticos fora dos trilhos estardatizados de antigamente. No caso de Adriana, a começar por ser mulher e se recusar a meramente reeditar os vícios do patriarcado, caminho que muitas das suas contemporâneas trilham nas Câmaras, na Assembleia e na bancada federal de Goiás. E, integrando um partido cuja presidente, Gleisi Hoffmann é um triste radicaloide com a cabeça na época da guerra fria. A filha de Darci Accorsi é o oposto, uma mestra do equilíbrio, do bom senso e da moderação na sua prática diária em um mundo dominado por homens. Ninguém duvida de que seria uma boa e arrojada prefeita, em um painel de candidatos repleto de mais do mesmo.

 

Já Gayer é um fenômeno à parte. Extremista além do necessário, como parte de um desempenho circense destinado a atrair votos, não dá entrevistas ou declarações à imprensa de qualquer natureza e prefere fazer seu proselitismo em linha direta com o mundo da internet. Choca: aos jornalistas que tentam contato com ele, responde com receitas de bolo. Goste-se ou não, é um estilo interessante, mais ainda em razão de se impor como muito bem-sucedido ao fugir do trivial. Para Goiás, é uma surpresa absoluta, um tipo de liderança disruptiva nunca registrado antes tanto em Goiânia quanto pelo interior afora. Não à toa, aliás, está empatado em 1º lugar com Vanderlan Cardoso e Adriana Accorsi na corrida pelo Paço Municipal, pelo menos conforme as pesquisas divulgadas em meados deste semestre.

Ora, alguém dirá, Gayer é um fanático agressivo, farsesco e preconceituoso, do tipo que representa perigo para a democracia e para os direitos humanos caso tenha algum dia nas mãos a capacidade de forçar o cumprimento das suas decisões. Sim, é verdade. Homens como ele estiveram por trás de todos os momentos autoritários e totalitários na história dos países, em especial os nazistas da Alemanha e os fascistas da Itália, só para ficar nas experiências mais óbvias. Mas ele não pode ser penalizado por suposições de que, em um certo instante futuro, a depender da sua ascensão, poderia extrapolar as diretrizes universais do Estado de Direito. Por ora, ele joga o jogo obedecendo as regras, com a vantagem de não esconder as suas convicções e abusar de uma sinceridade amplamente correspondida pelos percentuais de resposta atingidos nas classes sociais, à altura de dar a ele, senão o Paço Municipal neste ano, um mandato no Senado em 2026. Claro, existem mais nomes instigantes operando na política em Goiás, como o vice-governador Daniel Vilela, o presidente da Assembleia Bruno Peixoto, o ex-prefeito de Aparecida Gustavo Mendanha e os senadores Vanderlan Cardoso e Wilder Morais. Oportunamente, serão assunto dessa linha de análise neste blog.

 

NÃO DEIXE DE LER

Reeducação da classe política estadual é maior obra de Caiado

Dia da Mulher: Goiânia está pronta para uma prefeita?

O fator Gayer na eleição para prefeito de Goiânia