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José Luiz Bittencourt sobre política, cultura e economia

03 jun

Indulgência do PT com a criminalidade é desafio para Adriana Accorsi

Há poucos dias, quando a Câmara Federal derrubou o veto do presidente Lula ao fim das “saidinhas” – liberação para que presos com bom comportamento deixem a prisão temporariamente em datas especiais -, a deputada federal Adriana Accorsi foi obrigada a navegar na contramão: quase 70% dos parlamentares votaram contra as “saidinhas”, ou seja, pela derrubada de decisão de Lula, mas Adriana se alinhou com os que ficaram a favor, quer dizer, pela manutenção do veto. Atenção: ela é delegada de carreira, em Goiás, e sabe muito bem que a criminalidade tem a ver também com a condescendência do sistema penal brasileiro com a bandidagem. Mais ainda, em um Estado onde, depois de décadas, somente o endurecimento comandado pelo governador Ronaldo Caiado na repressão policial conseguiu baixar drasticamente os índices de violência, aliás em níveis inéditos em relação a todos as demais unidades federativas. Posicionar-se, em última análise, por uma regalia polêmica para presos, tromba de frente com essa estratégia bem-sucedida adotada em Goiás, onde os resultados mais espetaculares são justamente colhidos em Goiânia.

Está aí o desafio que a petista candidata a prefeita de Goiânia não terá sucesso em responder. Não há como. Obrigada à disciplina soviética do partido, ela é obrigada a se manter fiel às bandeiras mais características da esquerda, dentre as quais a leniência que enxerga a marginalidade mais como produto das desigualdades sociais e menos a desvios patológicos, ou não, e de comportamento. Isso explica no final das contas porque o governo Lula não tem uma política definida de segurança pública, não investe para melhorar a paz social no Brasil e prefere seguir o caminho da visão ideológica sobre a criminalidade – segundo a qual quem comete delitos também é “vítima”.

 

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Adriana é delegada há mais de 20 anos. Seu círculo próximo e até ela mesma acreditam que isso a ajudará eleitoralmente, ao correlacioná-la com o combate à delinquência. O ponto é que o eleitorado, hoje, parece ter consciência de que se trata de coisas diferentes. Ser policial de carreira não significa automaticamente contar com uma postura de intransigência com as transgressões penais. Ainda pior em que se tratando de alguém que segue com rigor a cartilha petista. Em um Estado onde o maior feito do governo, o mais reconhecido pela população, é a conquista de um nível inédito de segurança pública, investir contra os pilares dessa política – o endurecimento, aí incluída a conversação da pena de prisão em castigo real – não será um bom negócio jamais. Não à toa, Caiado criticou as “saidinhas” e comemorou a sua derrubada. Assim como recusa-se a inibir a ação da tropa da PM pendurando câmeras nos seus uniformes ou a garantir quaisquer benesses para quem mora nas penitenciárias.

Digamos assim: contra a inflexibilidade do governo, que gerou um avanço inestimável ao diminuir radicalmente as estatísticas de violência, Adriana Accorsi – se chegar a ocupar o segundo cargo executivo mais importante em Goiás – sinaliza desde já a impressão de oferecer um relaxamento inaceitável, simbolizado pelo seu voto pela continuidade das “saidinhas”. Não pega bem na terra que Caiado transformou no rincão mais protegido e seguro do país. Parece provável, assim, que o PT e suas veleidades doutrinárias serão o mais ferrenho adversário da deputada-delegada em outubro vindouro.