“Road show” de Bolsonaro em Goiás humilha o PT
Daqui a 110 dias, as eleitoras e os eleitores dos 246 municípios goianos acorrerão às urnas para escolher os seus respectivos prefeitos para o período 2024/2028. Apesar desse prazo exíguo, o clima entre a população é de frieza. Ninguém parece se preocupar com o futuro das suas cidades e muito menos com quem irá gerenciar os desafios urbanos e sociais em cada comunidade. E até mesmo os candidatos se mexem pouco. Não existe pré-campanha em parte alguma, a não ser no noticiário da imprensa ou em espirros espalhados pelas redes sociais.
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Tudo indica: vem aí uma eleição diferente das anteriores, mais sóbria e destinada a entrar em fase de resolução apenas na reta final para o 6 de outubro. Por enquanto, sobram dúvidas. A número um delas: haverá ou não reflexo da polarização ideológica arrasadora no país nos últimos anos? Os novos prefeitos serão produzidos mediante uma identificação das correntes de ideias a que estarão afiliados ou resultarão de preocupações com a capacidade de gerência de cada um, em especial nos maiores centros e principais polos demográficos do Estado? O bolsonarismo estará empurrando (e orientando) os dedos nas teclas das urnas eletrônicas? E o antipetismo? Vale lembrar ser Goiás um canto do Brasil marcado por um forte conservadorismo (oriundo da predominância do agronegócio na economia), no qual esses condicionantes – bolsonarismo e antipetismo – tiveram forte influência eleitoral nos anos recentes. E vão continuar a ter.
Há ainda a questão do marketing. Essa é uma ferramenta ainda com a credibilidade em alta entre as candidatas e os candidatos concorrendo em polos geopolíticos de peso como Goiânia, Anápolis, Aparecida, Rio Verde, Jataí e poucas a mais. Porém, atenção: não adiantam mais jingles chiclete e “reportagens” sobre a infância, primeira professora e perguntinhas plantadas em que o “povo” recebe respostas ensaiadas. Marketing entrou em um novo estágio, muito mais afirmativo. Nesta semana, por exemplo, o ex-presidente Jair Bolsonaro cumpre a sua agenda goiana em ritmo de campanha. Essa estratégia funciona, ao reiterar e manter viva a confrontação direita/esquerda. Bolsonaro, em 2018, ganhou sem marqueteiro e com meros 15 segundos no horário gratuito de rádio e televisão. Eis aí uma “novidade” até certo ponto impactante em Goiás e mesmo em termos nacionais: um ex-presidente, que também pode ser classificado como a liderança de mais amplo espectro da nação, gastando farta munição para direcionar o voto no Estado e propondo-se a uma comunicação direta com as massas, sem intermediário e sem retoques cosméticos. Ninguém de mínima semelhança com esse perfil, vindo de fora, jamais bateu ponto com tanta frequência entre as goianas e os goianos.
Tudo isso tem significado. Deixa claro que a corrida deste ano pelas prefeituras será balizada por um imaginário tão complexo quanto inédito. E que, nesse ambiente ainda em fase de criação, a sombra do Jair irá se projetar exponencialmente. Para azar do PT, é certo. Enquanto Bolsonaro replica visitas e mais visitas a Goiás, o santo padroeiro do petismo já passou dos 15 anos sem dar as caras na pátria do cerrado. O “road show” destes dias é uma verdadeira humilhação para os assombrados candidatos do partido da estrela vermelha, sem reação e obrigados esperar por um Godot – Lula – que não chega nunca para apadrinhar e interceder por votos para Adriana Accorsi ou Antônio Gomide (ele não apareceu, aliás, nem para pedir para si próprio em 2022). Pior: se vier, pode ser até que termine por agravar a situação desfavorável dos representantes petistas que se preparam para enfrentar as urnas de outubro. Lula não gosta das goianas e dos goianos e esses, por sua vez, sempre foram às urnas como se não gostassem dele. Repetirão agora?