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José Luiz Bittencourt sobre política, cultura e economia

17 jul

Candidatos a prefeito deveriam ousar. Mas não é o que se vê

Ousar, leitoras e leitores, está aqui colocado no sentido de agir de forma inovadora, porém responsável. Não inventar propostas demagógicas ou voltadas só para angariar simpatia e votos. Proceder decididamente em favor da população, em especial crianças, mulheres, trabalhadores e jovens – contingentes que são majoritários em qualquer centro urbano. É isso que as eleições municipais deste ano requerem dos candidatos a prefeito, em cidades como Goiânia, Aparecida, Anápolis, Rio Verde, Catalão, Luziânia e outras situadas entre as 20 ou 30 maiores de Goiás.

Mas não é isso que está acontecendo. Até agora, todos os pretendentes que disputam essas prefeituras parecem enquadrados dentro da caixa, sem pensar fora dela. Na campanha deste ano, nem em obras, fixação de todos os gestores públicos no Brasil, estão falando. O que se ouve é de uma generalidade que dá pena. Um desconto em benefício deles, por ora, pode ser dado diante da constatação de que o processo eleitoral mal começou. Isso, contudo, não impede uma avaliação do que cada um diz, no sentido de apurar se as suas intenções são realmente capazes de trazer alguma evolução social, econômica ou cultural. Afinal, estamos a menos de 80 dias da data das urnas.

Goiânia, dentro dessa perspectiva, teria a obrigação de se constituir em uma espécie de farol. O que adiantaram Adriana Accorsi, do PT; Sandro Mabel, do UNIÃO BRASIL-MDB; e Vanderlan Cardoso, do PSD, desde que se puseram a se movimentar como postulantes ao Paço Municipal? Nada. Ou mais do mesmo: aprimorar a zeladoria (palavra mágica da moda nesta eleição), colocar os CAIS para funcionar 24 horas por dia (promessa recorrente de todos os candidatos de 30, 40 anos para cá), agilizar a mobilidade urbana e por aí afora, sem absolutamente qualquer novidade. Nunca uma campanha na capital foi tão pobre.

 

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Vamos a um exemplo: especialistas em Educação pelo Brasil afora confluem para a opinião de que o investimento dos municípios em serviços para melhorar a qualidade de vida das crianças de zero a seis anos tem o potencial de reduzir a desigualdade, diminuir a violência e aumentar o desenvolvimento local ao longo de décadas. Por isso, esse tema deveria ser prioritário na pauta das eleições de 2024, porém… não é. Ao contrário, em Goiânia, Aparecida e Anápolis persiste por anos e anos um déficit monumental de vagas nos CMEIs. Eventualmente, são construídas algumas unidades, assinados convênios com entidades privadas (religiosas, no mais das vezes, e isso não é bom) e pronto. A Defensoria Pública fica repleta de mães desesperadas atrás de matrículas para os seus filhos, prejudicados pelo que perdem em matéria de alimentação e, elas principalmente, pelas dificuldades de acessar um trabalho não tendo onde ou com quem deixar as suas meninas e os seus meninos.

Por baixo, entre Goiânia, Aparecida e Anápolis, haveria necessidade de 200 ou mais novos CMEIs. Dinheiro, municipal e federal, existe, mas onde estão eles? Por que não foram levantados, para atender, na média nacional, os 15% das crianças de 0 a 4 anos que vivem abaixo da linha da pobreza extrema. Isso tem a ver com as prefeituras, na medida da sua vinculação constitucional com a Educação Infantil. Programas assistencialistas de distribuição de dinheiro não resolvem, apenas minimizam, ao promover o combate à pobreza quando ela já existe, quando a melhor maneira de prevenir seria atuar na primeira infância. Por que os candidatos ignoram olimpicamente essa demanda quase oculta da sociedade? Porque, infelizmente, não têm conhecimento sobre o que a ciência (e a academia) estão mostrando a respeito da relevância das experiências na infância, fundamentais para uma vida saudável e realizadora.

Caberia exigir de quem quer ser prefeito essa visão e cobrar propostas adequadas para enfrentar um desafio que é tanto maior quanto mais habitada cada cidade. Significa que, no caso de Goiânia, Aparecida e Anápolis, há uma premência que não pode mais ser postergada, explosivamente visível na escandalosa falta de vagas nos CMEIs. Acordem, Adriana Accorsi, Sandro Mabel e Vanderlan Cardoso. Acordem Professor Alcides e Leandro Vilela. Saiam do lugar Antônio Gomide e Márcio Correa. Sejam mais audaciosos e metam o bedelho na mais civilizatória de todas as missões de que pode um prefeito se incumbir e chamem a atenção do Brasil com um novo modelo de Educação Infantil, integradora e revolucionária, para o bem das gerações futuras. Em Goiás.