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José Luiz Bittencourt sobre política, cultura e economia

06 ago

O imbróglio do PP em Goiânia: Baldy tentou enganar Caiado?

O presidente estadual do PP Alexandre Baldy, que acumula o comando da Agência Estadual de Habitação com o cargo de CEO da filial brasileira da montadora de veículos elétricos BYD, anda brincando com fogo. Depois que, no domingo, ele reafirmou sua  palavra ao governador Ronaldo Caiado jurando que o partido estaria na coligação de Sandro Mabel, eis que, logo depois, na segunda, 5, última data para as convenções, o PP de repente registrou uma ata na Justiça Eleitoral integrando-se à candidatura de Vanderlan Cardoso, pelo PSD, até mesmo indicando um pepista vice (Paulo Daher).

Durante semanas, a imprensa especulou e publicou notícias às carradas sugerindo que alguma coisa de errado acontecia no PP. O diretório municipal, presidido pelo irmão de Baldy, o secretário de Indústria & Comércio Joel Sant’Anna Braga, até fez uma convenção para declarar apoio a Mabel, mas o presidente estadual não deu a cara. Houve estranheza – e muita. Já no dia seguinte Vanderlan distribuía notícias garantindo que o PP estaria com ele e que não haveria decisão em contrário. Baldy seguiu em silêncio. O que teria dado tanta segurança a Vanderlan? Nesse diapasão, os dias se passaram. E Baldy quieto e desaparecido.

Paralelamente, a boataria se intensificou com informações do entorno do prefeito Rogério Cruz, que no passado havia celebrado acordo com o PP e recebido no seu 1º escalão uma irmã de Baldy (como secretária municipal de Educação). A fofoca cresceu. A essa altura, bastaria uma palavra do presidente da legenda e o imbróglio estaria encerrado. Mas o garoto propaganda dos carros da BYD continuou escondido atrás da omissão. E assumindo riscos terríveis, uma vez que o seu principal interlocutor quanto ao destino do PP em Goiânia era Caiado.

 

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Alexandre Baldy é um político sinuoso. É jovem e tem perfil para despontar como um quadro de renovação, mas, na verdade escolheu o caminho das velhas práticas. Pior: entre as melhores cabeças da classe política estadual, ninguém confia nele, diante da permanente dissimulação incorporada ao seu caráter. Mas agora ele enfrenta um teste de fogo. Do outro lado da mesa, está Caiado – e com Caiado, recomenda a prudência, não se arrisca. Ainda mais quando se sabe que o prejuízo, para a campanha de Mabel, de certa forma já está dado: a polêmica jurídica instalada, ou seja, se vai ser possível retificar ou não a ata de apoio ao PSD que o PP entregou à Justiça Eleitoral, se o partido está rachado ou não, só isso já gera danos para a base governista em Goiânia.

Baldy é o responsável. Seus motivos, por ora, ainda são desconhecidos. Mas, como tudo que faz, é certa a prevalência de interesses paralelos ao processo político, nos quais sempre se meteu e pelos quais carrega cicatrizes colossais – sem, contudo, aprender a lição. Por que Baldy nunca reassegurou publicamente o compromisso assumido com Caiado para subir no palanque de Mabel? Por que enrolou até provavelmente fingir ter sido colhido de surpresa na última volta do ponteiro? Algumas frases curtas, lá atrás, e pronto, nada disso teria acontecido. No entanto, permitiu o vaivém do PP nas manchetes e só se manifestou agora, nesta terça, 6, estrategicamente após o encerramento do prazo para as convenções. O governador foi enganado? De onde tirou Baldy coragem para dizer de viva voz a Caiado, no domingo, que o PP iria apoiar Mabel, levando junto o seu precioso tempo no horário gratuito de propaganda eleitoral, para ser desmentido em 24 horas quando o PP protocolou uma ata no TRE pulando para o colo do PSD e Vanderlan?

Podem anotar, leitoras e leitores, isso não vai barato para Baldy.