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José Luiz Bittencourt sobre política, cultura e economia

18 set

Resultado da eleição em Goiânia foi pré-desenhado antes de iniciada a campanha

É uma eleição municipal diferente essa em andamento em Goiânia. Todo mundo sabe que haverá um 2º turno, a ser disputado entre Sandro Mabel (UNIÃO BRASIL) e Adriana Accorsi (PT) – e dificilmente ocorrerá alguma reviravolta. Esse cenário começou a ser plantado há quase quatro anos, quando o prefeito Rogério Cruz chutou o MDB para fora do Paço Municipal, abrindo uma cova profunda e pulando dentro. Naquele momento, Cruz enterrava para sempre qualquer chance de um futuro mínimo na política: não se dispensa um partido desse peso em Goiás, aliás, busca-se, como fez o governador Ronaldo Caiado ao cimentar a sua reeleição chamando Daniel Vilela para ocupar a vice. O prefeito  acidental deveria era ter abandonado o Republicanos (que depois o largou na rua da amargura) e se filiado ao MDB.

Um governante é sempre uma aposta segura quando disputa a reeleição. Mas o Rogério, vivendo a ilusória a febre do poder, já havia virado pó 24 horas após o MDB bater em retirada do alto do Park Lozandes. Foi a primeira condicionante para o pleito ora em curso na capital. A segunda veio em 2022, quando Vanderlan Cardoso cometeu a insanidade de apoiar o estranho no ninho Major Vitor Hugo para o governo do Estado, em troca da indicação da sua mulher Izaura para uma pífia primeira suplência do senador Wilder Morais. Tal como Cruz, Vanderlan fincou ali os alicerces, sólidos, da inviabilidade da sua candidatura a prefeito, quando, se tivesse sido fiel a Caiado, estaria montado sobre o mais poderoso projeto eleitoral para Goiânia – juntando os benefícios do seu recall e do apoio do governador. Ao contrário, atirou tudo isso para o ar.

Para piorar, o senador ainda deu outro passo em falso: persistiu no mau caminho e lançou Izaura para disputar a prefeitura de Senador Canedo. Ele cá, ela lá. Não foi uma decisão política, foi uma ação de defesa de interesses familiares (e particulares) dentro da política. Não poderia funcionar e colaborou para empurrar Vanderlan para o abismo. Ele e Cruz, assim, entraram em na campanha com o destino traçado às custas dos erros anteriores.

 

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A terceira condicionante é Adriana Accorsi. Ela, uma personagem de valor e para lá de bem-intencionada, foi induzida a equívocos de consequências insuperáveis desde antes até o início da campanha em Goiânia. Não se preparou, mesmo ciente do antipetismo e do antilulismo evidente em todas as classes sociais do maior colégio eleitoral do Estado. Em parte, não poderia mesmo: como escapar à disciplina soviética do PT e deixar de votar na Câmara Federal pautas negativas como a questão das saidinhas de presos em datas comemorativas, sendo delegada de polícia? Não haveria como. E depois, veio a decisão fatídica do marqueteiro Jorcelino Braga, na tentativa de burlar a boa-fé do eleitorado reencapando a candidata para esconder o ranço petista com a cor lilás, o novo número, o tal do 1 + 3 e a cândida referência ao “presidente da República”, que é como Adriana passou a chamar o Lula. A autenticidade, o melhor marketing eleitoral, foi perdida. Ainda assim, a derrota será do partido e não dela.

Some-se a isso uma presença ensaiada e artificial nos programas do horário gratuito e, como era de se esperar, Adriana estacionou nas pesquisas. Restaram Sandro Mabel, previsivelmente em alta com o impulsionamento de Caiado e seus espetaculares 86% de aprovação na capital, e Fred Rodrigues, o bolsonarista destrambelhado. Hoje, Mabel é hipótese até para vencer no 1º turno, no limite do otimismo. O mais certo é que entrará no 2º turno embalado, em velocidade de jato, e massacrará Adriana com facilidade – e não adiantarão nada os ataques. Estava escrito assim que ele foi oficializado como o nome do peito do governador. Já Fred tem potencial para surpreender, sobe nas pesquisas com constância e de repente acaba no 2º turno, ele e Mabel, mas essa, convenhamos, é uma possibilidade distante – porém, aliás, ultrapassar Vanderlan não é e o senador pode colocar as barbas de molho.

Em resumo, leitoras e leitores, a corrida que se vê pela prefeitura de Goiânia foi muito bem pré-desenhada antes de começar para valer. Sinal de que, às vezes, a política tem lógica. Por ora, parece improvável uma surpresa. No ritmo dessa festa, Mabel pode encomendar o terno de posse. É o que os astros estão dizendo.