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José Luiz Bittencourt sobre política, cultura e economia

27 set

Novo debate em Goiânia: em alto nível, mas sem reflexos na decisão de voto

Sim, o debate entre os candidatos à prefeitura de Goiânia promovido por O Popular e a rádio CBN Goiânia nesta quinta-feira, 26, foi respeitoso, marcado por um clima cordial entre os candidatos, mesmo nos – poucos – questionamentos mais incômodos ou incisivos. Mas, sim, é verdade também que o seu efeito sobre o ranking das intenções de voto do eleitorado goianiense foram nulos. Debates nesse tom, educados, quase frios, não repercutem e tendem a ser recebidos com neutralidade pelo reduzido público que deve ter assistido ao evento.

Os próprios organizadores do encontro entre os postulantes ao Paço Municipal, a turma da Organização Jaime Câmara, reconheceram: o confronto – convescote seria uma definição mais adequada – entre Sandro Mabel, Adriana Accorsi, Vanderlan Cardoso, Rogério Cruz, Fred Rodrigues e Matheus Ribeiro representou uma soma zero para a disputa municipal deste ano na capital. O Popular ouviu um cientista político de peso acadêmico, talvez o mais antenado formado pelas universidades goianas, e ele decretou a total e absoluta ausência de qualquer consequência da conversa amigável entre os candidatos. Confiram:

“Quando um debate é bom, por incrível que pareça, ele tende a não produzir grandes impactos nas pesquisas de opinião, na maneira como o eleitorado se comporta, porque ele apenas reverbera aquilo que já circula na opinião pública e esclarece mais do que modifica”, disse o professor Francisco Tavares, da Universidade Federal de Goiás, sempre objetivo e elucidativo. Ou seja: o debate não serviu para nada, a não ser detalhar e sedimentar propostas. E propostas, como se sabe, não ganham uma eleição.

 

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As eleitoras e os eleitores, na sua sabedoria, compreendem que os projetos apresentados pelos candidatos não passam de meras declarações de intenções. Eleitos, nem se cobra deles a concretização do prometido. Obama não fechou a prisão de Guantánamo. Iris Rezende não resolveu o desafio do transporte coletivo em seis meses. Desde que Aparecida existe, praticamente todos os seus prefeitos pediram votos jurando asfaltar todos os bairros da cidade – e até hoje cerca de 47 ou perto de um terço ainda estão na lama e na poeira. Mesmo assim, mesmo sem cumprir parte às vezes grande dos compromissos preanunciados para os seus mandatos, os governantes ainda podem alcançar sucesso e protagonizar gestões qualificadas. A memória do povo ou é curta demais ou a sua compreensão e paciência é suficientemente extensa para isso.

O paradoxo dos debates eleitorais é a imensa pressão midiática pelo alto nível e pela priorização da discussão centrada em propostas, que, no entanto, esfriam a contenda e esvaziam a audiência, além de tornar inócuos seus reflexos sobre a decisão de voto – conforme explicado pelo professor Francisco Tavares. Nesse último, em Goiânia, para valer, ninguém questionou ninguém, passando todos ao largo das perguntas constrangedoras. Todos calçaram luvas de pelica e não houve tapas nem elevação de vozes, talvez beijinhos metafóricos. Um debate mais civilizado, impossível. E mais desinteressante, também.