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José Luiz Bittencourt sobre política, cultura e economia

19 abr

Mãos vazias após 100 dias ensinam a Márcio Corrêa que a política é para os fortes, jamais para os fracos

Os prefeitos das três maiores cidades do Estado – Sandro Mabel, em Goiânia; Leandro Vilela, em Aparecida; e Márcio Corrêa, em Anápolis – promoveram eventos para marcar os seus primeiros 100 dias de mandato. Em comum, todos eles receberam dos seus antecessores caixas arrombados, focos de corrupção por toda parte, obras paralisadas às pencas e máquinas administrativas colapsadas. Mabel e Vilela foram proativos e conseguiram superar rapidamente o caos herdados com avanços e até programas e obras iniciais, em favor da população, enquanto Márcio Corrêa… bem, aí a coisa se complica um pouco.

Márcio passou parte da centena cotidiana inaugural da sua gestão internado em hospitais de Anápolis e Brasília. Alguma doença, algum acidente capaz de afetar a sua incolumidade física? Não. Com menos de 50 anos, na mesma faixa etária de políticos atuantes como o vice-governador Daniel Vilela, o ex-prefeito de Aparecida Gustavo Mendanha e o presidente da Assembleia Bruno Peixoto, o prefeito de Anápolis vergou sob crises de estresse, nada mais. Dentre os sintomas apresentados, um chamou a atenção: o rosto inchado. Nenhuma causa foi apurada. Médicos experientes, contudo, avaliam como provável um diagnóstico de crise de ansiedade, agravada por um abalo emocional. Qual? Ora, pelo único fato novo na vida de Márcio Correa quando as suas condições físicas subitamente pioraram: a posse na prefeitura, com todas as suas consequências em termos de exigências, responsabilidades e tensões inerentes ao cargo.

Onde Mabel e Vilela venceram, Márcio fracassou. Ele sentiu o peso das expectativas resumidas na sua ascensão a uma posição sobre a qual as anapolinas e os anapolinos depositam fortes esperanças, depois de 16 anos de prefeitos – Antônio Gomide e Roberto Naves – cuja única realização foi diminuir o tamanho e a presença da antiga “Manchester” goiana no panorama estadual, hoje estagnada e deslocada por Aparecida do segundo lugar do ranking dos PIBs municipais de Goiás. Isso teve efeito na autoestima dos moradores de Anápolis. Competiria a Márcio Corrêa reverter esse quadro de decadência com uma forte sinalização logo depois de tomar as rédeas nas mãos. O que ele fez? Correu para o hospital.

 

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Problemas de saúde à parte, o prefeito de Anápolis tentou marcar os seus 100 dias iniciais com uma “prestação de contas” em um auditório da cidade. Fiasco: a ocasião serviu para mais promessas, como se estivesse em campanha. Vai reabrir um hospital, pretende lançar um programa para desburocratizar o acesso aos serviços da prefeitura, sairá atrás de recursos para construir 6.500 casas, estabelecerá parcerias com o Senai para multiplicar cursos profissionalizantes e está analisando a implantação da tarifa zero no transporte coletivo nos domingos e feriados. Não é pouca coisa, porém não tem nada a ver com um balanço de 100 dias que já se foram, antes são anúncios para correr atrás de resultados concretos talvez pelos próximos mil dias. Não tem sentido.

Se a política é onde os fracos não têm vez, a gerência dos negócios públicos é um lugar definitivamente destinado aos fortes, aos capazes de resistir às pressões e suficientemente corajosos para decidir na maioria das vezes contrariando interesses e mergulhando em polêmicas. Caso contrário, a solução é parar no hospital, com mão trêmulas e inchaço na cara caracterizando uma falência nervosa. O desafio para Márcio Corrêa, agora, é mostrar que tem estrutura para enfrentar o desafio de ser prefeito de Anápolis, no qual os seus predecessores malograram escandalosamente. Se voltar ao hospital, sem uma doença oficialmente declarada, não tem.