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José Luiz Bittencourt sobre política, cultura e economia

26 abr

Vox Patris é símbolo da corrupção do padre Robson com o dinheiro dos fiéis do Divino Pai Eterno

Quanto custou o Vox Patris, celebrado como o maior sino do mundo, hoje a caminho de Trindade, onde, se tudo correr dentro do prazo, será exibido aos fiéis já na romaria deste ano? Inicialmente, quando foi encomendado a uma empresa especializada da Polônia, o valor seria de R$ 6 milhões. Mas era mentira, mais uma do mal afamado padre Robson, o picareta delirante do Divino Pai Eterno. O Ministério Público Estadual investigou e descobriu que, no mínimo, foram gastos R$ 17 milhões com o Vox Patris – e sabe-se lá qual o destino da diferença -, nome pretensioso inventado aliás pelo próprio Robson para, no final das contas, eternizar o maior e provavelmente mais duradouro símbolo do processo de corrupção que ele liderou com o dinheiro dos pobres-coitados afiliados à Santíssima Igreja trindadense.

O que é real e o que é desvio na aquisição desse sino megalomaníaco, resultado da visão distorcida de um pseudoclérigo bandido e nem um pouco preocupado com a obra de Deus na terra? Ninguém saberá jamais. O MPE foi derrotado na Justiça, aliás, como sempre, e não conseguiu culpabilizar padre Robson de nada, apesar do quão ostensiva foi a gigantesca maracutaia montada com as contribuições mensais amealhadas pela tal AFIPE – Associação dos Fiéis do Divino Pai Eterno, um nome demagógico e marqueteiro  para a entidade arrecadadora que ainda existe e segue absorvendo recursos de uma maioria de contribuintes humildes, gente do povo, explorada até o último fio de cabelo por um vigarista que movimentou bilhões de reais, comprou fazendas cinematográficas, prédios, carros e casas de luxo, postos de combustíveis, propriedades milionárias e pagou generosamente proxenetas, amantes e chantagistas de toda ordem (e, afinal, qual o paradeiro desses bens materiais?).

 

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O resumo de tudo isso é o Vox Patris. Imaginem se, algum dia, alguém tivesse proposto a São Francisco, que emprestou seu nome ao papa morto, aliás identificado na mesma humildade, uma barbaridade como enterrar tanta pecúnia popular em um bem material nitidamente ostentatório em vez de dar diretamente os recursos aos pobres, como fez o santo de Assis – aquele que em praça pública despiu-se de suas vestes de luxo, renunciou às riquezas da sua família e foi embora nu para cumprir o destino de uma vida extraordinária dedicada ao bem comum? O que diriam aquele Francisco do passado e esse Francisco de agora sobre a extravagância produzida com os suados caraminguás dos seguidores da Divina Trindade, em meio a um dos mais sórdidos caldeirões de manipulação de haveres coletivos da história do mundo? Sim, do mundo, sem exagero. Não é surpresa, portanto, que um desatino como o Vox Patris e toda a sua grandeza tenham sido produzidos por toda a podridão liderada pelo padre Robson.

Por que a Igreja Católica nunca se manifestou, nem com um pio, sobre essa figura tenebrosa que agiu impunemente durante anos, atolado até o último fio de cabelo em atividades criminosas com a poupança dos ingênuos e desprevenidos crentes da segunda maior romaria do país? Simples: cumplicidade. Onde houvesse necessidade de dinheiro para pagar isso ou aquilo, padre Robson nunca faltava. Mas havia um mau cheiro, suficiente para espantar altos prelados como cardeais ou mesmo papas. Sabiam, leitoras e leitores, que o Papa Francisco chegou a pensar em visitar o Santuário, em sua visita ao Brasil em 2013, mas sintomaticamente desistiu? Pode-se especular que Francisco não quis colocar nos pés na sujeira espalhada comerciante sacripanta da Afipe, já pública desde aquela época, mas tolerada pelos interesses materiais da Cúria goiana e brasileira. Fácil concluir agora que o vigário de Cristo na terra fez muito bem.