Informações, análises e comentários do jornalista
José Luiz Bittencourt sobre política, cultura e economia

12 jun

Dois dias de festa junina são o melhor que a Assembleia tem a oferecer para Goiás

Nos próximos dias 25 e 26 de junho, com entrada gratuita, no Centro Cultural Oscar Niemeyer, em Goiânia, a Assembleia Legislativa promove uma festa junina, diz-se, aberta a quem estiver focado em se divertir. Ótimo: à falta de outra serventia, as goianas e os goianos podem contar com um Legislativo cuja maior resposta aos anseios populares é um arraiá de São João com transmissão ao vivo pela TV Assembleia. Melhor do que nada. Com entretenimento puro, o que o presidente Bruno Peixoto busca, na verdade, é suprir as deficiências de um Poder, hoje, absolutamente sem méritos. Esse é o significado da pândega patrocinada pelo Peixoto, claro, por conta do Tesouro.

E é sério, leitoras e leitores. Dia sim, dia não, os 41 deputados estaduais protagonizam manchetes escandalosas em O Popular. Vencimentos milionários, privilégios, mordomias e uma ausência absoluta de seriedade no chamado trato da coisa pública, sem falar na pancadaria verbais nos debates. Em O Popular, vírgula. A imprensa nacional também tem repercutido os malfeitos da nossa Assembleia, a exemplo de matéria recente da Folha de S. Paulo expondo as artimanhas legais aproveitadas para encher os bolsos dos briosos parlamentares da atual Legislatura. Nunca, mas nunca mesmo, o nível foi tão baixo entre as senhoras (poucas) e senhores assentados no magnífico prédio do Park Lozandes, aquele que, mesmo três anos após inaugurado, ainda não está ocupado em toda a sua extensão. Trata-se de um inédito e generalizado baixo-clero, porém revestido de ouro.

 

 

Falta, nas 41 cadeiras da Assembleia, até mesmo a boa exceção que deveria confirmar a regra da maleficência geral que caracteriza a baixa qualidade da safra em curso de deputados estaduais. Eles são todos iguais na avidez por contas bem abastecidas e mordomias, independentemente de ideologias, de partidos políticos e de qualquer outra distinção. Nas ruas, podem ser vistos pilotando vistosas SUVs Hilux pretas, compradas no atacado por R$ 15 milhões por Bruno Peixoto para, por sua vez, “comprar” e garantir o controle do plenário, dentre outras finalidades inconfessáveis. Trata-se da versão modernizada das chapapretas de outrora, que resumiam as regalias dos antigos funcionários de alto escalão. É indecoroso e é de se estranhar que nem um único deputado tenha recusado a prebenda, uma a mais em um rosário interminável de benefícios injustificáveis e incompatíveis com a aplicação correta do dinheiro do contribuinte.

 

 

Com um cabide de empregos recordista em comparação com os demais Legislativos pelo país afora, inclusive uma fantástica coleção de diretorias e secretarias de alto calado salarial e zero de objetivo para executar (o que lembra a corte do imperador Hailê Sellassiê, da Etiópia, descrita no livro Imperador: a Queda de um Autocrata, de Ryszard Kapuściński, que menciona até a existência de um colocador de almofadas para Sua Majestade, muito bem remunerado pelo dificultoso trabalho de escolher, a cada ocasião, entre 52 alternativas para receber o bumbum real). Nesse repositório de cargos está pendurada gente que não faz nada, ociosa, em uma espécie de Bolsa Família destrambelhada. A Assembleia de Goiás pode assim ser ao menos classificada como ousada, porém em sentido inverso: em um Estado em que o governador Ronaldo Caiado extirpou a corrupção e implantou regras rígidas de racionalidade administrativa e zelo radical com o erário, o Poder transformou-se em um bolsão de imoralidade quanto ao desprezo que dedica aos interesses coletivos e quanto às quase-falcatruas perpetradas diariamente contra os cofres públicos, marca registrada da gestão em curso do presidente Bruno Peixoto. Nunca houve um Poder Legislativo tão sem virtudes em qualquer lugar do país (o que este blog explicará e detalhará em uma próxima nota).

 

LEIA AINDA

Bruno Peixoto não será vice na chapa de Daniel Vilela nem que a vaca tussa: entenda o porquê

Fenômeno político de 2023 em Goiás foi a ascensão de Bruno Peixoto

TCM-GO desperdiça dinheiro público, mas ameaça de extinção pela Assembleia é imoral