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José Luiz Bittencourt sobre política, cultura e economia

26 jun

Segundo a Globonews, Irã venceu a guerra. Distorções como essa explicam a queda da audiência do canal

Os canais brasileiros de notícias, todos eles, têm audiência baixa. Mas o que surpreende é que a Globonews, o mais portentoso da coleção, continua perdendo público continuamente e, assim, deixando a liderança cada vez mais escapar para a BandNews, principalmente, e, ocasionalmente, para a JP News e a CNN. Isso não ocorre por acaso: a Globonews vem exagerando no viés ideológico, com seus jornalistas e comentaristas engajados em uma visão do mundo antiparlamentar, antiamericana e anticapitalista (insistindo em defender a tese simplista do lulismo de um Brasil dividido entre ricos e pobres).

Conforme a Globonews, o Congresso Nacional é a fonte de todos os males. Bem, temos um Legislativo longe de ser perfeito, porém é preciso admitir que tem virtudes incontestáveis, acima da classificação entre o bem e o mal. É quem tem barrado, por exemplo, os aumentos de impostos que o governo Lula insiste em priorizar em vez de cortar gastos e desindexar as despesas governamentais. É também o único freio, infelizmente ainda não suficiente, para segurar os excessos autoritários do Supremo Tribunal Federal, no momento uma ameaça contra a liberdade de expressão como nunca se viu antes em Pindorama.

Piada: a recém-encerrada guerra entre Israel/Estados Unidos e o Irã foi vencida… pelo Irã: no mesmo dia do cessar fogo, sem se basear em qualquer informação independente, a Globonews decretou que o programa nuclear dos aiatolás não sofreu grandes abalos e segue em frente perseguindo fins pacíficos. Incrível: para isso, bastaria enriquecer urânio a pouco mais de 3%, mas os cientistas iranianos já alcançaram até 87,3% e contam com estoques significativos a mais de 60%, segundo a AIEA, a agência de controle nuclear da ONU – o que denuncia sem sombra de qualquer dúvida a intenção de construir a bomba.

Mas não para a Globonews, na sua insana estratégica para provar que o Irã triunfou porque, além de preservar o programa nuclear, o regime não caiu. Duas aliterações da realidade. O regime não caiu, só que sofreu um abalo sísmico que pode levar a uma queda mais adiante. A infraestrutura militar dos persas foi aniquilada (essa é a palavra correta para definir o que Israel fez com o já enfraquecido e obsoleto aparato de guerra dos aiatolás atômicos: aniquilação). Em meio a comentaristas eufóricos com a “sobrevivência” do Irã, como Marcelo Lins e Demétrio Magnoli, ambos defensores da tese da “vitória na derrota” dos aiatolás, salva-se Guga Chacra: no terceiro dia do conflito, ele surpreendeu os colegas afirmando que a República Islâmica estava destroçada, sendo ouvido em meio a um silêncio sepulcral. Vejam bem, leitoras e leitores: no terceiro dia de combates. Guga também reconheceu o estrondoso sucesso dos judeus ao dominar os céus iranianos sem perder uma única aeronave, mirando exclusivamente alvos militares, enquanto o Irã retribuía com mísseis analógicos, sem pontaria, caindo majoritariamente sobre áreas civis em Israel.

 

 

Lamentavelmente, Guga Chacra igualou-se aos colegas ao embarcar na previsão, fracassada, de que os Estados Unidos não se envolveriam porque a base de apoio do presidente Trump seria contra e em razão do que chamaram de “desastres” na intervenção no Iraque e no Afeganistão. Pois bem: Trump atacou o Irã, em um movimento preciso de risco calculado que apressou o desfecho da guerra (depois de uma retaliação ridícula). E mais: Iraque e Afeganistão transformaram-se países comportados, que se recusam a abrigar o terrorismo, comprovando o acerto das ingerências americanas no passado. Isso, para a turma da Globonews, não tem valor. Assim como o abandono do Irã pelas potências amigas (Rússia e China) e pelas demais nações árabes. Todas condenaram o ataque de Israel, mas cruzaram os braços enquanto a aviação israelense e estadunidense reduzia o Irã a frangalhos.

De resto, vale lembrar que o noticiário da Globonews chegou a afirmar, durante o conflito, que não existe mais a imposição de uso de véu para as mulheres iranianas. Não é verdade. A proibição de mostrar o cabelo em público continua a valer, para evitar “vibrações negativas que incomodam os homens”, com punições duríssimas em caso de desobediência. O que houve foi a paralisação de um projeto de lei, no Parlamento, que agrava as penas para as infratoras. Essa é a teocracia, tal como ela é: sanguinária, assassina, violadora dos direitos humanos mais fundamentais, mantendo na idade média um dos lugares mais bonitos e jovens do Oriente Médio (60% da população abaixo de 34 anos), agora desmoralizada no que mais prezava, ou seja, na sua capacidade bélica – que a Globonews garantiu equivocadamente ser fatal na retaliação a Israel. Não passou nem perto. E sem falar na falta de inteligência, ou seja, no fracasso em evitar a infiltração adversária por toda parte, como se viu na decapitação do alto comando das forças armadas. Os aiatolás foram humilhados e nunca mais levantarão a cabeça sem que petardos caiam dos céus que eles não dominam. Menos para a Globonews e está aí a explicação para os seus pífios índices de audiência, abaixo de 60 mil pessoas, em média, a cada hora.

 

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