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José Luiz Bittencourt sobre política, cultura e economia

15 maio

Recuo nas mudanças no Passe Livre Estudantil mostram que Caiado é mal assessorado, toma decisões sem planejamento e está governando na base do improviso e das ações pontuais

O recuo nas mudanças no Passe Livre Estudantil, que reduziriam os jovens beneficiados pelo programa a uma ninharia entre 12 e 15 mil, mostram que o governador Ronaldo Caiado ainda tem uma reserva de bom senso, mas, também, confirma que ele está administrando o Estado na base do improviso e das ações pontuais que não atendem a uma concepção global de gestão.

 

Que Caiado é mal assessorado, já se sabia. A rigor, ele não tem até hoje uma equipe de auxiliares coesa e bem preparada. Trouxe a maior parte dos seus secretários de fora, mas nenhuma estrela e sim técnicos de brilho mediano, que não conheciam a realidade de Goiás e nem sequer uns aos outros. É gente provavelmente bem intencionada, mas crua quanto ao que verdadeiramente deve ser um governo – e especialmente um que foi eleito como depositário das esperanças dos goianos quanto a uma mudança profunda no Estado.

 

O mesmo acontece com relação à porção local da nova esquadra administrativa estadual. Aos nativos, foram destinados cargos de segundo e terceiro escalão, em sua maioria esmagadora. Também aí não aparecem talentos excepcionais. Caiado alega que fez as nomeações por mérito, mas a verdade é que passou longe desse tipo de critério. Houve prioridade para indicações da classe política, que, é preciso admitir, o governador aceitou com relutância – mas aceitou. Parlamentares – e o próprio Caiado, aliás – inundaram o governo de parentes. Isso, é claro, não poderia jamais dar em um time que joga com coesão e apenas interessado em mostrar eficiência, como não deu.

 

O caso do Passe Livre Estudantil é o melhor exemplo do que pode resultar de uma barafunda como a montada pelo Palácio das Esmeraldas. O projeto enviado para a Assembleia e depois retirado impunha alterações draconianas, que foram mal recebidas até pelos mais fiéis deputados da base caiadista – a que existiria, mas até hoje não foi testada. E o pior é que partiu do princípio de que jovens que não necessitariam do benefício estariam aproveitando para andar de ônibus de graça. Os assessores que produziram essa bobagem deveriam ser demitidos imediatamente por Caiado por induzi-lo a acreditar que alguém, no Brasil, recorre ao transporte coletivo e não ser em caráter obrigatório. Ônibus é sinônimo de sofrimento, perda de tempo, desconforto e tudo o mais de que as pessoas fogem como o diabo da cruz, se puderem.

 

A impressão que se tem é ninguém sabe ao certo o que fazer, dada a ausência de um projeto para o Estado, um rumo, e por isso o governo funciona de forma pontual, mais errando que acertando. O Passe Livre Estudantil só poderia ser alvo de uma configuração dentro de uma reformatação das políticas sociais, no conjunto, e não isoladamente. É fato que o governo do Estado não tem dinheiro para custear tudo o que foi implantado nos últimos 20 anos a título de assistencialismo, parte do qual perdeu a finalidade. Isso, sim, seria governar.